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domingo, 8 de fevereiro de 2009

A FACE POSITIVA DA REFORMA ORTOGRÁFICA DA LÍNGUA PORTUGUESA

Luísa Galvão Lessa colunaletras@yahoo.com.br

O PORTUGUÊS é a língua que os portugueses, os brasileiros, africanos e alguns asiáticos aprendem no berço, reconhecem como patrimônio nacional e utilizam como instrumento de comunicação, quer dentro da sua comunidade, quer no relacionamento com as outras comunidades luso falantes. Existe a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CCPL - criada em 1996, com sede em Lisboa, Portugal, reunindo os oito países que adotam o português como língua oficial. Essa CCPL objetiva preservar e expandir o idioma pelo mundo, bem como promover a cooperação política, social, econômica e cultural entre os países-membros.
Como princípio geral, pode-se dizer que, por razões econômicas, sociais e educacionais, que a ortografia de uma língua deve ser a mais estável possível. Mudanças ortográficas devem ser raras, isso é bem verdade. Contudo, se eventualmente necessárias, devem ser pontuais, abraçando, apenas, aspectos marginais ou excessivamente incongruentes. Então, se só raramente deve-se mexer na ortografia, o que justifica as mudanças que ora estão em vigor, desde o dia 1º de janeiro de 2009, implementadas pelos países de língua oficial portuguesa?
Muita gente se pronuncia contrária às mudanças. Muitos dizem que ela veio para enriquecer uns poucos. Mas não é bem assim que se deve olhar a questão. Há duas boas e fortes razões para essa Reforma Ortográfica: 1º) eliminam-se as incongruências que ainda persistem na ortografia luso-brasileira. 2) alcança-se aquele objetivo maior da reforma, qual seja, resolver, de vez, a esdrúxula situação de uma língua com duas ortografias concorrentes: a lusitana e a brasileira. O nosso sistema ortográfico tem, reconhecidamente, um excesso de regras de acentuação e uma área a que falta um mínimo de racionalidade: o uso do hífen. O Acordo altera positivamente este quadro.
De outra parte, esse Acordo elimina nada menos que sete regras de acentuação (todas inúteis). Permanecem apenas as regras de amplo alcance. O sistema de acentuação perde em número e ganha em generalidade, o que facilita seu uso e seu ensino. Não é nada para apavorar os falantes e nem escritores. A Reforma simplifica, não complica.
Dessa forma, essa Língua Portuguesa que não dispõe de um território contínuo (mas de vastos territórios separados, em vários continentes) e não é privativa de uma comunidade (mas é sentida como sua, por igual, em comunidades distanciadas), apresenta grande diversidade interna. Essa diversidade vem sendo estudado, ao longo do tempo, pela Dialetologia Social e Geografia Lingüística, em especial no que se refere aos aspectos fonéticos, sintáticos e morfossintáticos. A língua muda consoante as regiões e os grupos que a usam. Mas, também por isso, é uma das principais línguas internacionais do mundo. Logo, é importante manter uma única ortografia, para expansão de seu prestígio cultural.
Considerando que, dentre as cerca de 220 milhões de pessoas incluídas no universo dos oito países da lusofonia, a grande maioria — 190 milhões — vive no Brasil, entende-se o porquê de, mais cedo ou mais tarde, todas as nações de língua portuguesa ratificarem, internamente, as mudanças aprovadas em 1990. Assim, é importante a adoção do Acordo Ortográfico, sua vigência e obediência no meio cultural, educacional e comercial. Desencadeia-se, desse modo, o processo de mudança, que deverá, já em 2010, estar visível em livros e outras publicações. Internacionalmente, a reforma converte o idioma em língua oficial da Organização das Nações Unidas - ONU.
Com isso, livros de todos os segmentos — ficção, didáticos, paradidáticos e científicos — documentos e escrituras internacionais, contratos comerciais e textos de todos os gêneros podem circular livremente entre os países, sem necessidade de revisão e de tradução. Antes do Acordo exigia-se, em alguns casos, tradução. Um exemplo é a Carteira Nacional de Habilitação. O Brasil não aceitava os documentos de condutores portugueses, que careciam de traduções juramentadas.
Como é fácil perceber, a reforma ortográfica terá grande benefício e, também, sensível impacto na indústria gráfica. À medida que avança, milhões de exemplares de livros, dicionários, apostilas, manuais e jogos estarão desatualizados. Terão de ser reimpressos, criando uma previsível demanda extra bastante atraente para o setor. Os itens ligados à educação e cultura deverão ser os primeiros a passar novamente pelas impressoras, pois é fundamental que tenham de imediato a nova base ortográfica. A internacionalização também favorece muito o trabalho de pré-impressão.
Então, por mais puristas que sejam os estudiosos da língua portuguesa, é necessário compreender a importância e a extensão da reforma ortográfica. A relação custo-benefício da mudança deverá acabar prevalecendo, até porque a nova ortografia não impedirá a espontânea e inevitável evolução regional da língua, um elemento vivo e sensível às peculiaridades culturais, políticas e socioeconômicas de cada país. A indústria gráfica, não só pela questão mercadológica, como pela responsabilidade intrínseca a um setor integrante da cadeia produtiva da comunicação, está-se preparando, adequadamente, para as mudanças, contribuindo, também, para a sua ampla e correta difusão política, como idioma de grande projeção.

DICAS DE GRAMÁTICA
OS ACENTOS CIRCUNFLEXOS CAEM, PROFESSORA?
- Não! Acentuam-se com acento circunflexo: a) As palavras oxítonas terminadas nas vogais tônicas fechadas, que se grafam -e ou -o, seguidas ou não de -s: cortês, dê, dês (de dar), lê, lês (de ler), português, você(s); avô(s), pôs (de pôr), robô(s).
- Ainda, acentuam-se as formas verbais oxítonas, quando, conjugadas com os pronomes clíticos -lo(s) ou la(s), ficam a terminar nas vogais tônicas fechadas que se grafam -e ou -o, após a assimilação e perda das consoantes finais grafadas -r, -s ou -z: detê-lo(s) (de deter-lo(s)), fazê-la(s) (de fazer-la(s)), fê-lo(s) (de fez-lo(s)), vê-la(s) (de ver-la(s)), compô la(s) (de compor-la(s)), repô-la(s) (de repor-la(s)), pô-la(s) (de por-la(s) ou pôs-la(s)).
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Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montréal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Membro da Academia Brasileira de Filologia. Membro da Academia Acreana de Letras.




A NOVA FORMA DE ESCREVER A LÍNGUA PORTUGUESA

Entrou em vigor a Nova Reforma Ortográfica dos países de Língua Portuguesa - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. A Lei está valendo desde o dia 1º de janeiro de 2009. Todos os países da lusofonia devem seguir as novas regras. Elas resultam de um Acordo Internacional que visa unificar a forma de escrever a Língua Portuguesa. Com isso, todos os falantes devem tomar ciência das mudanças e obedecê-las, sob pena de incorrer em erros crassos.

Aqui no Brasil, o MEC anunciou que existirá uma fase de transição onde a ortografia atual (antiga) e a nova coexistirão. Essa fase vai de 1º de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2012. Esse acordo diz respeito à ortografia, não ao vocabulário de cada país, que é impossível unificar. O acordo fortalece o português, que é a terceira língua ocidental mais falada, após o inglês e o espanhol.


Esta Nova Ortografia objetiva padronizar a forma de escrever, pois a ocorrência de duas ortografias, numa mesma língua, atrapalha a divulgação do idioma e a sua prática em eventos internacionais. A unificação, no entanto, facilitará a definição de crité-rios para exames e certificados para estrangeiros.

Com as modificações propostas no acordo, calcula-se que 1,6% do vocabulário de Portugal seja alterado. No Brasil, a mudança será bem menor: 0,45% das palavras terão a escrita modificada. A Academia Brasileira de Letras irá publicar o Novo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. É natural, no contexto de alterações, que as mudanças ortográficas na língua portuguesa devam gerar confusão mesmo entre os professores do idioma. O Ministério da Educação estipulou que os livros didáticos do ensino fundamental devem, entre 2010 e 2012, adotar a Nova Ortografia, em todas as séries. Já no ensino médio, a medida tem início a partir de 2012. Com isso, os estudantes do ensino fundamental e médio vão conviver com a dupla ortografia até 2012. Porém, a partir de janeiro de 2013 as formas antigas - aquelas em vigor até 31 de dezembro de 2008 - serão abolidas e consideradas corretas apenas as novas formas. A mesma tolerância será estendida para vestibulares e concursos públicos, cujas provas deverão aceitar como corretas as duas normas ortográficas, segundo o MEC, isso até 2012.


As novas alterações são significativas na acentuação de algumas palavras, extinguem o uso do trema e padronizam a utilização do hífen. A partir de agora, não é errado escrever “micro-ondas” - com hífen - e “antissocial” - sem hífen. Também é correta a grafia das palavras “ideia” e “assembleia” sem acento. Assim, embora haja muitas mudanças, serão conservadas as pronúncias típicas de cada país. Vejamos, agora, algumas das mudanças ocorridas na forma de escrever a Língua Portuguesa:
- As paroxítonas terminadas em “o” duplo, por exemplo, não terão mais acento circunflexo. Ao invés de “abençôo”, “enjôo” ou “vôo”, os brasileiros terão que escrever “abençoo”, “enjoo” e “voo”.

- O hífen não é mais utilizado em palavras formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal + palavras iniciadas por “r” ou “s”, sendo que essas devem ser dobradas, como em “minissaia” e “microrradiografia”. No caso em que o primeiro elemento termina em vogal e o segundo começa com uma vogal diferente, a palavra também deve ser escrita sem o hífen, como “coeducação” e “hidroelétrico”. No caso de termos compostos de duas palavras, a tendência é continuar valendo a regra atual. Esse é o caso mais confuso das novas mudanças.
- Não se usará mais o acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos “crer”, “dar”, “ler”, “ver” e seus decorrentes, ficando correta a grafia “creem”, “deem”, “leem” e “veem”.


- Criação de alguns casos de dupla grafia para fazer diferenciação, como o uso do acento agudo na primeira pessoa do plural do pretérito perfeito dos verbos da primeira conjugação, tais como “louvámos” em oposição a “louvamos” e “amámos” em oposição a “amamos”.


- O trema desaparece completamente. Estará correto escrever “linguiça”, “sequência”, “frequência” e “quinquênio” ao invés de lingüiça, sequência, freqüência e qüinqüênio.
- O alfabeto deixa de ter 23 letras para ter 26, com a incorporação de “k”,”w” e “y”. - O acento deixará de ser usado para diferenciar “pára” (verbo) de “para” (preposição).


- Haverá eliminação do acento agudo nos ditongos abertos “ei” e “oi” de palavras paroxítonas, como “assembléia”, “idéia”, “heróica” e “jibóia”. O certo será assembleia, ideia, heroica e jiboia.
- Em Portugal, desaparecem da língua escrita o “c” e o “p” nas palavras onde ele não é pronunciado, como em “acção”, “acto”, “adopção” e “baptismo”. O certo será ação, ato, adoção e batismo. - Também em Portugal elimina-se o “h” inicial de algumas palavras, como em “húmido”, que passará a ser grafado como no Brasil: “úmido”.


- Portugal mantém o acento agudo no e e no o tônicos que antecedem m ou n, enquanto o Brasil continua a usar circunflexo nessas palavras: académico/acadêmico, génio/gênio, fenómeno/fenômeno, bónus/bônus.


Nós, falantes de Língua Portuguesa, necessitamos estudar as novas regras desse Novo Acordo Ortográfico, pois ele traz mudanças significativas na forma de escrever. Essa nova forma de escrever já está valendo. Então, cuidado e atenção a partir de agora. A linguagem escrita é uma forma de traduzir, identificar uma pessoa. E, no mundo atual, dominar o idioma pátrio é uma exigência. O mercado de trabalho seleciona os profissionais pelo bom domínio que estes possuem da língua padrão.

EMPREGO DO HIFEM, COMO FICA?

COMO FICA O EMPREGO DO HÍFEN, PROFESSORA?
- Nova regra:Não usamos mais hífen em compostos que, pelo uso, perdeu-se a noção de composição.Regra antiga:manda-chuva, pára-quedas, pára-quedista, pára-lama, pára-brisa, pára-choque, pára-vento.Como será:mandachuva, paraquedas, paraquedista, paralama, parabrisa, párachoque, paravento.

A vida da gente é feita assim: um dia o elogio, no outro a crítica. A arte de analisar o trabalho de alguém é uma tarefa um pouco árdua porque mexe diretamente com o ego do receptor, seja ele leitor crítico ou não crítico. Por isso, espero que os visitantes deste blog LINGUAGEM E CULTURA tenham coerência para discordar ou não das observações que aqui sejam feitas, mas que não deixem de expressar, em hipótese alguma, seus pontos de vista, para que aproveitemos esse espaço, não como um ambiente de “alfinetadas” e “assopradas”, mas de simultâneas, inéditas e inesquecíveis trocas de experiências.