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domingo, 15 de novembro de 2009

Geografia da Língua Portuguesa: viagem das palavras

No texto de hoje, trago aos leitores, aspectos da geografia da Língua Portuguesa, em países da lusofonia, em especial Angola, Portugal e Brasil. Essa geografia vem traduzida na variação diatópica da língua, especialmente na diversidade lexical.

Bicha – em Angola designa o homossexual. Em Portugal diz-se e no Brasil é .
Barona – Em Angola significa . No Brasil se diz . Em Portugal . No Brasil, é uma palavra pejorativa.
Chana – em Angola significa , ou seja, designa uma vegetação. No Brasil, em algumas regiões, é uma gíria para designar a genitália feminina.
Contratado – eufemismo que substituiu o termo escravo, no trabalho compelido a que os africanos nativos estavam sujeitos nas roças e fazendas, durante a época colonial do Estado Novo (regime Salazarista) português. No Brasil, chegou o “escravo”.Comboio mala – designação do comboio (trem) que transportava as malas do correio. Permaneceu em Portugal e no Brasil .
Semba - palavra que significa "umbigada". O <<>>, dança praticada em Luanda, deu origem ao samba brasileiro. Em vários momentos da dança os pares trocavam umbigadas. Trazida para o Brasil, por escravos oriundos de Angola, modificou-se e mudou de nome. Kizomba ou "Quizomba", palavra que foi usada no tema de carnaval da escola de samba Unidos de Vila Isabel, no Rio de Janeiro em 1988, é um tipo de música e dança angolana. Usa-se, no Brasil, a palavra , designativa de confusão. Quilombo – palavra originária do quibundo, dialeto africano, para designar "capital, povoação". No Brasil ganhou a significação de Tukeia ou tuqueia – Peixe lacustre das anharas (savanas) do leste da Angola. Sanzala – palavra de origem angolana, com variação de , que significa cidade, aldeia africana. No Brasil, passou a designar o galpão onde dormiam os escravos.
Pirão ou funji - comida tradicional angolana. É uma espécie de papa, preparada com fubá ou farinha e, com este sentido, é palavra também empregada no Brasil. Aqui criou-se o ditado "Farinha pouca, meu pirão primeiro", significando que, em épocas de dificuldades, busca-se primeiro satisfazer a si próprio e depois aos outros. Moleque – palavra originária do quimbundo "mu'leke" = menino. No Brasil, assumiu, no correr do tempo, inúmeros significados, carinhosos ou pejorativos, conforme o emprego. Pode ser uma forma de tratar qualquer menino, independente da cor da pele ser branca ou negra, não necessariamente pejorativa. Pode, ainda, significar um indivíduo brincalhão, engraçado. Ou, ainda, se esbravejada contra um adulto, em tom de discussão, , estará significando um indivíduo sem palavra, um canalha, um cafajeste.
Os exemplos apenas ilustram a viagem das palavras de uma região para outra, dentro de uma mesma língua. É tema curioso, fascinante, que merece estudo acurado para mostrar que as palavras são fotografias da vida do homem no espaço físico-social.

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A vida da gente é feita assim: um dia o elogio, no outro a crítica. A arte de analisar o trabalho de alguém é uma tarefa um pouco árdua porque mexe diretamente com o ego do receptor, seja ele leitor crítico ou não crítico. Por isso, espero que os visitantes deste blog LINGUAGEM E CULTURA tenham coerência para discordar ou não das observações que aqui sejam feitas, mas que não deixem de expressar, em hipótese alguma, seus pontos de vista, para que aproveitemos esse espaço, não como um ambiente de “alfinetadas” e “assopradas”, mas de simultâneas, inéditas e inesquecíveis trocas de experiências.