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sábado, 20 de fevereiro de 2010

A SAUDADE QUE HABITA A ALMA LUSO-BRASILEIRA

Tanta gente indaga se é verdade que saudade é uma palavra que só existe em Língua Portuguesa?! A verdade é que ela aflige o coração de tantas pessoas, pelo que carrega de significação. Mas possui etimologia incerta. Suas formas arcaicas são "suidade, soedade e soidade", na fase do galego-português. Teria vindo, talvez, de "soledade", solidão. Também foi levantada a hipótese de vir de "salutate", uma saudação bastante usada nas despedidas das cartas romanas. Até a influência de "saúde" já foi aventada. A dificuldade de explicar a mudança fonética fez João Ribeiro (grande estudioso da Língua Portuguesa) opinar que saudade tem origem no árabe "saudá", significando profunda tristeza. Outra possível hipótese, presumidamente fantasiosa, é ter derivado de "Ceudda", forma berbere de dizer Ceuta, fortaleza distante onde os soldados passavam longos tempos ausentes da terra natal.
De fato, essa palavra carrega mistérios, encantos, nostalgia. Talvez por essa multiplicidade significativa, essa indefinição que envolve o sentido que transposta, sobre ela há tantas definições: Sentimento mais ou menos melancólico de ausência, ligado pela memória a situações de privação da presença de alguém ou de algo; nostalgia ou afastamento de um lugar ou de uma coisa; ausência de certas experiências e determinados prazeres já vividos e considerados, por alguns, como bens desejáveis; lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoa ou coisa distante ou extinta; pesar pela ausência de alguém que nos é querida. Como sinônimos ela tem duas palavras: Lembrança e Nostalgia.
Para os gramáticos consultados, saudade é substantivo abstrato, tão abstrato que só existe na língua portuguesa. Os outros idiomas têm dificuldade em traduzi-la ou atribuir-lhe um significado preciso: Te extraño (castelhano), J'ai regret (francês) e Ich vermisse dish (alemão). No inglês há variadas tentativas para dizê-la:: homesickness (equivalente a saudade de casa ou do país); longing e to miss (sentir falta de uma pessoa), e nostalgia (nostalgia do passado, da infância). Mas todas essas expressões estrangeiras não definem o sentimento das pessoas que falam o português. São, apenas, tentativas de determinar um sentimento que nós mesmos não sabemos, com exatidão, como defini-lo. Não é apenas um obstáculo ou uma incompatibilidade da linguagem. É, principalmente, uma característica cultural daqueles que falam o idioma de Camões.
Independente de origem etimológica, o fato é que essa palavra mora na alma brasileira. Saudade não tem cor, mas pode ter cheiro. Não podemos ver nem tocar, mas sabemos o quanto é grande. Pode ser o sentimento que alimenta um relacionamento amoroso ou apenas o que sobra dele. Pode ser uma ausência suave ou um tipo de solidão. Pode ser uma recordação daquele momento e daquela pessoa, que um dia, mesmo sabendo ser impossível, ousamos querer reviver e rever. É a dor de quem encontrou e nunca mais voltará a encontrar, de quem sentiu e nunca mais voltará a sentir. Assim, a saudade se combina com outros sentimentos e procria-se. A soma da saudade com a solidão é igual à Dor. O resultado da saudade com a Esperança é a Motivação.
Saudade é uma só, em diferentes palavras. É comum encontrá-la grafada nas lápides em alusão a dor da ausência provocada pela morte. Mas na Literatura e na Música é um tema crônico. É quem arquiteta a estrofe e conduz o tom. Não importa o gênero literário ou o estilo musical, não importa o autor, a época ou a situação. Saudade é saudade, um sentimento luso-brasileiro.
Saudade é um registro fiel do passado. É a prova incontestável de tudo que vivemos e ficou impresso na alma. Ao confessarmos uma saudade, na verdade, estamos nos vangloriando de que, ao menos uma vez na vida, conhecemos pessoas e vivemos situações que foram boas, e serão eternas em nossa alma. Nutri-la, é alimentar o espírito e a própria existência.
Se há tantas e, ao mesmo tempo, tão imprecisas definições de saudade restam-nos, apenas, cultivá-la e alimentá-la com pensamentos, músicas, perfumes, fotografias, lugares, fins de tarde e madrugadas. Que saibamos viver plenamente o presente, pois ele será a saudosa lembrança do amanhã. Pois a vida vai tecendo laços e tudo que tece são pedaços do vir-a-ser, que se transforma em ser. Assim, a saudade aportou no Brasil com a colonização e, sendo o Recife um dos primeiros, senão o primeiro porto a ser tocado na rota, ela aqui aportou e fez sua morada. Hoje habita cada coração dessa gente luso-brasileira.

DICAS DE GRAMÁTICA
COMO UTILIZAR MEIO E MEIA, PROFESSORA?


- O uso da palavra “meio” depende da classe gramatical, se for adjetivo ou advérbio.
Meio adjetivo - A palavra meio (= metade) varia no feminino e plural quando precede um substantivo:Cem mil toneladas de arroz representam o consumo nacional de meio mês. Ganhou meia gleba de terra em área amazônica. Por favor,rapaz, deixe de meias palavras.- Em tais casos, faz-se a concordância em gênero e número mesmo que o substantivo esteja subentendido, como se verifica em “meia hora”:Antigamente, à meia-noite e meia (hora) apagavam-se as luzes da cidade.O almoço deve ser servido ao meio-dia e meia.


Meio advérbio - Com o significado de "um tanto, um pouco, quase", acompanha um adjetivo e fica invariável:As portas ficaram meio abertas. Ela está meio tonta. Elas são meio tolas.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A LÍNGUA PORTUGUESA NA INTERNET

É natural a preocupação de professores em relação à linguagem da Internet. Muitos questionam sobre a banalização do idioma. Outros defendem a tese de enriquecimento lingüístico, isso porque novas palavras, a cada dia, entram no léxico do idioma pátrio. A verdade é que a Internet vem revolucionando a comunicação humana de uma forma como nenhuma outra invenção foi capaz de fazer até hoje. E, ao tempo em que dissemina informação e divulgação mundial, também é veículo de interação entre indivíduos, independentemente de suas localizações geográficas. Assim, a Internet trouxe numerosas mudanças no vocabulário empregado nas conversas dentro e fora do ambiente virtual.

Nesse novo contexto é importante observar que cada época possui uma forma própria de comunicar-se: os sons de tambor, o fogo, os sinais com panos ou bandeiras, o bilhetinho, o telefone, o telégrafo, e agora o telefone fixo-móvel, a Internet e os telemóveis. O fato é que esse fenômeno Internet, em pleno vigor, neste século XXI, não foge à regra de qualquer outra época. As necessidades de comunicação têm sido muitas, o ritmo de vida é muito rápido, e o ser humano continua a inventar sempre o material que faz avançar os seus sonhos e sempre aperfeiçoando e indo mais além, de descoberta em descoberta. E, assim, o homo sapiens está a converter-se em homo digitalis com a introdução, na vida diária, dos computadores, da Internet e dos telemóveis.

A linguagem, como espelho da vida social, ajusta-se ao momento, aos meios, à tecnologia. Não há mais espaço, nas conversas online ou por telemóveis, para frases longas, textos em padrão culto. Por isso mesmo a linguagem integra-se às necessidades da vida moderna. Palavras são abreviadas até o ponto de se converterem em uma, duas ou no máximo três letras. São exemplos disso: não = n, sim = s, de = d, que = q, também = tb, cadê = kd, tc = teclar, porque = pq, aqui = aki, acho = axo, qualquer = qq, mais ou mas = +, blz = beleza, abç = abraços, fds = fim de semana, tb = também, vc = você, pq =porque, etc.
Percebe-se, nos poucos exemplos, que a pontuação e a acentuação foram abolidas (é = eh, não = naum), isso porque a escrita dos ambientes virtuais prende-se à fonética das palavras e não à ortografia fixada pela norma padrão, motivada por questões relativas à economia de espaço e à rapidez de transmissão de dados da comunicação.Essa é uma demonstração de como a linguagem está a serviço do usuário que a manipula segundo o tempo, a situação, o contexto.

Da mesma forma, a telefonia celular também difunde o envio de mensagens SMS – conhecidas por "torpedos" – com grandes vantagens aos usuários: não se perde tempo ao falar, mandam-se mensagens de qualquer lugar e a qualquer hora. Mais uma vez, as limitações tecnológicas – neste caso, o tamanho da tela do aparelho telefônico – influenciam a estrutura da linguagem utilizada: quanto menos caracteres usados, mais espaço para a mensagem. Daí decorre a necessidade de economia da linguagem em forma de abreviaturas. Tudo isso representa um momento da vida atual, não há nenhum perigo. Isso porque a linguagem retrata a vida humana no curso do tempo. E esse tempo de hoje é veloz, tecnológico, com linguagem virtual.

Têm-se, assim, breves comentários para dizer que a Internet não oferece nenhum perigo ao idioma português ou a qualquer outro. Vive-se o imperativo do tempo, da globalização, da tecnologia, da velocidade nos meios de comunicação. E a linguagem virtual passa a ser mais uma faceta da linguagem humana, em atenção ao tempo, ao meio, ao contexto, às necessidades, aos veículos. Importante é saber quando utilizar uma ou outra forma. Um ou outro padrão. O que está em jogo é a comunicação e se esta se realiza com eficiência acontece uma maravilha, nada a temer. É a linguagem cumprindo seu papel: ajustando-se ao meio e às necessidades de seus usuários.

Finalmente, dadas as dimensões, a Internet – no que diz respeito ao uso da língua em ambientes virtuais -- não pode ser ignorada, pois a linguagem da Internet também está sujeita a regras, convencionalizadas pelo uso, nos novos gêneros discursivos que surgem no ambiente virtual, como o chat, fórum, lista de discussão, messenger, blog, etc. Cabe ao professor integrar a linguagem da Internet ao rol das variedades sócio-estilísticas da língua, fazendo as correlações entre a norma e o uso.
A vida da gente é feita assim: um dia o elogio, no outro a crítica. A arte de analisar o trabalho de alguém é uma tarefa um pouco árdua porque mexe diretamente com o ego do receptor, seja ele leitor crítico ou não crítico. Por isso, espero que os visitantes deste blog LINGUAGEM E CULTURA tenham coerência para discordar ou não das observações que aqui sejam feitas, mas que não deixem de expressar, em hipótese alguma, seus pontos de vista, para que aproveitemos esse espaço, não como um ambiente de “alfinetadas” e “assopradas”, mas de simultâneas, inéditas e inesquecíveis trocas de experiências.