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terça-feira, 4 de junho de 2013

A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS PALAVRAS EM LÍNGUA PORTUGUESA

 

 

      A comunicação é o motor da inter-relação entre os seres humanos, contínua, permanente, obrigatória. A linguagem é o seu combustível. A linguagem é um instrumento brandido sobre nossas cabeças desde o nascimento até aos mais elevados níveis de aperfeiçoamento intelectual. E a linguagem se faz, particularmente, pelas palavras. Logo, é importante o estudo das palavras e suas significações.
      O estudo das palavras e de suas significações, dentro da cultura a que a língua serve, é de grande importância aos falantes. É tarefa de grande eficácia em sala de aula, ainda mais quando os estudantes têm dificuldade em encontrar palavras para traduzir seus pensamentos. Importante, também, é o estudo da significação dessas palavras. Esse aprendizado pode se tornar tarefa interessantíssima se o professor conduzi-la de maneira aprazível, levando os alunos à compreensão que o mundo da linguagem se organiza por campos lexicais ou campos semânticos [conceituais]. Todo esse estudo pertence à ciência Semântica, cujo objeto de investigação é a significação ou significado das palavras.
      Por não estarem devidamente diferenciados ou definidos, os conceitos de campo semântico e campo lexical frequentemente são confundidos. Tanto o campo semântico quanto o campo lexical são utilizados pela linguística textual a fim do melhor e mais adequado uso das palavras da língua portuguesa. Para entendê-los melhor trazemos alguns esclarecimentos e algumas conceituações:

    Léxico é o conjunto de palavras pertencentes à determinada língua. Por exemplo, temos um léxico da língua portuguesa que é o conjunto de todas as palavras que são compreensíveis em nossa língua. Quando essas palavras são materializadas em um texto, oral ou escrito, são chamadas de vocabulário. O conjunto de palavras utilizadas por um indivíduo, portanto, constituem o seu vocabulário.
      O campo lexical, por sua vez, é o conjunto de palavras que pertencem a uma mesma área de conhecimento, e está dentro do léxico de alguma língua.
      São exemplos de campos lexicais:

- campo lexical da medicina: estetoscópio, cirurgia, esterilização, medicação, etc.
- campo lexical da escola: livros, disciplinas, biblioteca, material escolar, etc.
- campo lexical da informática: software, hardware, programas, sites, internet, etc.
- campo lexical do teatro: expressão, palco, figurino, maquiagem, atuação, etc.
- campo lexical dos sentimentos: amor, tristeza, ódio, carinho, saudade, etc.
- campo lexical das relações inter-pessoais: amigos, parentes, família, colegas de trabalho, etc.

      O campo semântico, por sua vez, é o conjunto de possibilidades que uma mesma palavra ou conceito tem de ser empregada(o) em diversos contextos. O conceito de campo semântico está ligado ao conceito de polissemia. Uma mesma palavra pode tomar vários significados diferentes em um mesmo texto, dependendo de como ela for empregada.
São exemplos de campos semânticos:

* Campo semântico em torno do conceito de morte: bater as botas, falecer, ir dessa para a melhor, passar para um plano superior, falecer, apagar, etc.
* Campo semântico em torno do conceito de enganar: trapacear, engabelar, fazer de bobo, vacilar, etc.

      Considera-se importante, no conhecimento de qualquer idioma do mundo, o domínio do vocabulário por parte do falante. Quanto mais palavras conhecer maior será a eficácia da sua linguagem, concebida como forma de interação. Assim, o conjunto de vocábulos que possuímos apresenta um valor referencial, um valor contextual e um valor pragmático [uso]. Por isso, a significação de um vocábulo é importante para a compreensão de qualquer mensagem.

      Finalizando, diz-se ser importante ao falante perceber como um texto se constrói, como os vocábulos se organizam. É uma aventura, em qualquer texto, compreender os sentidos ou significados das palavras e saber que a base desses textos – orais ou escritos – é o vocabulário. Sem o vocabulário não se diz nada e também não se compreende nada. É o silêncio.      

DICAS DE GRAMÁTICA

DEVE-SE ESCREVER O SARGENTO MARIA OU A SARGENTO MARIA?

- Existem na língua portuguesa as formas femininas soldada, sargenta, coronela, capitã, generala. No entanto, como as Forças Armadas resolveram não adotá-las, preferindo empregar o nome do posto tanto para os homens como para as mulheres (até porque alguns ficariam estranhos, como ‘a tenenta’, e outros nem feminino teriam, como ‘major’ e ‘cabo’), a única diferenciação fica sendo o artigo:

· A soldado Camila, a sargento Maria e a coronel Anny Rose serão promovidas.

· Parece que uma tenente foi desacatada.

· O coronel Gomes passou as instruções a capitão Marli Regina.

Fora da hierarquia militar, no caso particular de capitão, pode-se dizer que é correto – existe esse registro em alguns dicionários – falar em "capitoa", mas é preferível usar o feminino capitã, palavra, aliás, bastante em voga, pois designa também o "chefe, a pessoa que comanda, que dirige" ou "atleta que representa a equipe":

· Na nossa gincana foi atribuído um prêmio as capitãs das cinco equipes.

· Rosilda, capitã da PMAC por muitos anos, abandonou o torneio repentinamente.

É CORRRETO DIZER “EU EXPLUDO”?

- Sim, perfeitamente correto. EXPLODIR não é verbo defectivo em si. Ele é conjugado conforme o verbo dormir, segundo dicionários especializados. Portanto, pode-se dizer "ele explode, eu expludo, ele que expluda o balão”. No Brasil, depois que o ex-presidente Figueiredo falou (corretamente) "expludo", criou-se o estigma e a má reputação do verbo, como se ele devesse ter explodido de outra forma: "Ele que se exploda!"

domingo, 2 de junho de 2013

A PRESENÇA ITALIANA NA LÍNGUA PORTUGUESA

 

Luísa Galvão Lessa colunaletras@yahoo.com.br

Uma língua viva, falada, recebe, naturalmente, influências de outras culturas. E, em artigos anteriores, falou-se da herança de outros povos na formação da língua portuguesa. Comentaram-se as influências: francesa, inglesa, espanhola, árabe, tupi, africana, grega. O texto de hoje contribui na compreensão da herança italiana na língua portuguesa.

É fato que o léxico de uma língua é formado por palavras vindas de vários lugares, e que isso depende do contato que os povos tiveram entre si. No português, temos palavras germânicas, árabes, francesas, italianas, japonesas, chinesas, só para ilustrar alguns legados, e nós as aprendemos quando precisamos usar. Por isso qualquer pessoa que entra num shopping center assimila o que é 50% off' (desconto de 50%) e isso não impede a comunicação.

O Brasil, em final do século XIX, recebeu levas de imigrantes de todos os cantos do planeta, mas nenhum influenciou tanto a cidade de São Paulo quanto os italianos.Eles vieram para a lavoura do café a partir de 1877 e faziam a rota contrária: do interior para a capital de São Paulo. Tanto foi assim que já no começo do século XX constituíam praticamente a metade da população da cidade e da mistura da língua italiana com o português criaram aquilo que se chamou de “língua brasileira”.

As influências estão presentes em toda parte, na culinária, na passionalidade, no vestir, na educação, nas expressões, na música, na ciência e nas artes. Das correntes de imigração, os italianos só perderam, no final do século XIX, para os portugueses... nossos descobridores.

O brasileiro é conhecido por gostar do tradicional arroz e feijão e, também, por apreciar um prato de massa. Assim é que muitas palavras da culinária italiana ingressaram no português de forma definitiva. Dentre elas enumeramos: Lasanha: lazanha/lasanha; Nhoque:enhoque/ nhioque; Espaguete: spaguetti/espaguete/ spaghet; Muçarela: mussarela/musarela/muzzarella; Pizza: piza; Taglierini: talharim/ Ravioli: ravióli; Panetone: panetone.

Algumas dessas palavras são grafadas de forma diferente de um canto ao outro do Brasil, ora com /s/ ora com /z/. Esse comportamento também é notado nos dicionários que registram essas formas aportuguesadas. Lasanha, por exemplo, em italiano se escreve com "s" e "gn", ou seja, "lasagna", e em português com "s" e "nh", "lasanha". Depois, vê-se "nhoque". Em italiano, é "gnocchi", mas, em português, escreve-se com "nh" no começo e "que" no final ("nhoque"). Vê-se também "espaguete", que em italiano se escreve "spaghetti" e vem de "spago", que quer dizer barbante. Há, ainda, a palavra mozarela/muçarela/mozzarella.

Segundo Pacheco Júnior, autor de "Gramática Histórica da Língua Portuguesa", cerca de 300 palavras italianas foram incorporadas ao português falado no Brasil. São exemplos: cantina, caricatura, fiasco, bravata, poltrona, alegro, aquarela, bandolin, camarin, concerto, maestro, piano, serenata, alarme, boletim, carnaval, confete, macarrão, mortadela, salsicha, além, é claro, do "ciao", tranformado em "tchau".

No Brasil, a imigração italiana foi tão forte que, segundo os dados oficiais, pode-se afirmar que de 1870, até hoje, a influência italiana no Brasil chegou a ultrapassar a influência portuguesa, tendo sido registrada a entrada de mais pessoas de nacionalidade italiana (34% do total) que de nacionalidade portuguesa (28%), enquanto que todas as outras nacionalidades juntas (espanhóis, japoneses, alemães, sírios/turcos etc) somam os 38% restantes.

Foi assim que nas comemorações dos 500 anos do Brasil o IBGE apresentou dados oficiais sobre a imigração no país, segundo os quais cerca de 1,5 milhões de italianos escolheram o Brasil como segunda pátria. A maior parte entrou nos Estados de São Paulo, Rio grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo. Esses imigrantes aqui constituíram parte significativa da família brasileira e, por isso mesmo, cada brasileiro carrega consigo, no vocabulário, traços culturais do italiano.

DICAS DE GRAMÁTICA

ESTA E ESTÁ, QUANDO USAR UMA OU OUTRA FORMA, PROFESSORA?

- Professora Toinha, esta caneta que está aqui é sua?

Esta - pronome demonstrativo, pois indica o lugar ou a posição dos seres e objetos em relação à pessoa que fala. 

Está - verbo estar - indica um estado ou qualidade.

Ex.:

a. Esta conversa já está ficando aborrecida.

b. Esta criança já está na escola.

c. Está incomodando esta música?

d. Está disposto a ganhar esta partida?

e. Esta janela está aberta.

HOUVE E OUVE, COMO USÁ-LOS?

Ouve: verbo ouvir, escutar. 

Houve: verbo haver, no sentido de acontecer, existir, sair-se bem ou mal.

Ex.:

a. Fale mais alto. Ele não ouve muito bem.

b. Em 1865 houve uma guerra entre o Brasil e o Paraguai.

c. Fale mais perto e baixinho, senão ela ouve o segredo.

d. Não fique nervoso. Não houve nada de grave.

e. Houve muita confusão no jogo de domingo.

f. Ela só ouve música clássica.

HERANÇA FRANCESA NA LÍNGUA PORTUGUESA

 

Luísa Galvão Lessa Karlberg  - colunaletras@yahoo.com.br

Temos discutido, desde algum tempo, que a língua, um organismo vivo, está sujeita a sofrer modificações, alterações, mudanças no curso do tempo. A língua portuguesa, a exemplo de outras línguas, recebe herança de outros povos e esse legado pode ser apreciado pelas palavras estrangeiras que são incorporadas ao vocabulário português. Falamos, em artigos anteriores, da influência indígena e africana. Hoje falamos da herança francesa tão presente no português, por força das relações políticas, culturais e comerciais.

Houve uma época em que a França serviu, para nós, de modelo cultural. Assim, muitas palavras do idioma de Molière representavam o que de mais chique se podia usar no Brasil. Companhias de teatro francesas se apresentavam no Rio e em São Paulo, para uma aristocracia que importava governantas e contratava professoras particulares para ensinar a língua tão agradável aos seus filhos. Os galicismos - palavras importadas do francês - apareciam nos textos literários e nos jornais, mas naquela época os intelectuais eram mais críticos e escreviam repudiando o modismo. Hoje, tem-se a clara concepção de que esse legado não empobreceu o idioma camoniano, antes o enriqueceu com novas palavras, como <<restaurante>>, <<manchete>>, <<garçon>>, <<vernissage>>, <<écharpe>>, <<tricot>>, <<abajur>>, <<chofer >>, << butique>>,<<laquê>>, <<bisturi>>,<< bureau>>, << buquê>>,<<boné>>, <<toalete>>, << purê>>, <<cabaré>>, <<cabina>>, <<cachecol>>, <<camioneta>>, <<bufete>>, <<buquê>>, <<bulevar>>, <<bidê>>, <<bibelô>>, <<avalanche>>, <<paletó>>, <<pane>>, <<pasteurizar>>, <<pivô>>, <<placar>>, <<plaqueta>>, <<platô>>, <<plissado>>, <<pompom>>, <<pônei>>, <<popelina>>, <<raqueta>>, <<sanotagem>>, <<sabotar>>, <<vitrina>>, <<vagão>>, <<vitral>>, <<vermute>>, <<usina>>, <<usineiro>> etc, que refletem a raiz cultural francesa entre a gente do Brasil.

Depois, lembro as quadrilhas, nas festas juninas, que não são manifestações nascidas na nossa cultura popular. A quadrilha é uma dança européia que, no século XIX, passou para os salões da aristocracia e da classe média do Brasil. Daí compreende-se nela haver palavras francesas que comandam os passos da dança, em toda a movimentação nos salões e, depois, nos espaços campestres no interior do Brasil até se transformar na “dança caipira da roça” tão presente entre nós, nos meses de junho e julho.

Compreende-se, daquilo que aqui se falou, que o vocabulário de uma língua tem o importante papel de revelar o perfil de um povo. Por isso, os vocábulos não são estáticos no seu emprego: transformam-se quanto à significação ou freqüência de uso, quer no decorrer do tempo, quer no lugar em que são usados, quer nas diferentes situações sociais.

Conclui-se, ao final, que o conjunto de vocábulos de uma língua funciona como espelho da cultura dessa língua, tendo, portanto, o papel de revelar interesses, hábitos de alimentação, vestuário, crenças, cultura etc. Portadores desta função - de espelhar, de revelar o perfil do povo que as emprega - os vocábulos não poderiam ser estáticos no seu emprego. Assim, quer no tempo, quer no espaço (país, estado, cidade, bairro, rua, ...), quer nas camadas sociais, quer na situação social em que são usados, os vocábulos se transformam, por exemplo, quanto à sua significação, sua forma, sua freqüência de emprego. Cada língua tem sua individualidade, seu comportamento, sua lógica.

DICAS DE GRAMÁTICA

BANCAS DE JORNAL / BANCAS DE JORNAIS
- As palavras compostas unidas pela preposição DE, pluralizam apenas o primeiro elemento:
Ex.: pés-de-moleque | testas-de-ferro | frutas-do-conde
O mesmo acontece com expressões como:
. bancas de jornal | casas de aluguel | camas de casal
. escovas de dente | casas de massagem | pilhas de rádio.

BASTANTE / BASTANTES
- Bastante pode ser um adjetivo ou um advérbio. Será um adjetivo quando se referir a um substantivo. Caso se refira a outra classe de palavra será advérbio. Quando é um adjetivo, varia, isto é, concorda com o substantivo; quando é advérbio, permanece invariável.
· Estudamos bastante. (advérbio, portanto: invariável, pois se refere ao verbo)
· Tenho bastantes razões para acreditar em ti. (adjetivo, portanto: varia, pois se refere ao substantivo razões).
Truque: Para sabermos usar, basta trocar o bastante por muito. Se o muito variar, o bastante também varia. Se o muito ficar invariável, o bastante também deve ficar.
· As crianças estão bastante alegres. (As crianças estão muito alegres).
· Havia bastantes pessoas no cinema. (Havia muitas pessoas no cinema).

BEM-VINDO / BENVINDO
- Bem- vindo é a forma correta. Bem pede sempre o hífen.
Ex.: Bem-aventurado, bem-querer, bem-amado, bem-te-vi
Benvindo é usado como nome próprio.

DE MODO QUE / DE MANEIRA QUE / DE FORMA QUE
Sempre grafados no singular.
Nunca de modos que, de maneiras que, de formas que.

O LEGADO ÁRABE À LÍNGUA PORTUGUESA

Luísa Galvão Lessa      colunaletras@yahoo.com.br

 

O léxico de uma língua é um sistema in fieri e como tal vive em permanente expansão. No caso específico do léxico da língua portuguesa, como ocorre com outros idiomas do mundo, ele recebe influências de outras culturas - conforme tratamos em artigos anteriores - ora tangido por influência francesa, espanhola, africana, indígena, italiana, alemã, inglesa etc. Hoje falamos do legado árabe à Língua Portuguesa.

A influência árabe foi marcante em todo o sul da Península Ibérica. E, mesmo não havendo imposição religiosa e nem linguística, os árabes, ao conquistarem a Península Ibérica, deixaram marcas profundas no léxico português. Conta-se em centenas os vocábulos árabes, comuns, regionais ou antigos, que o português, antes ainda de merecer este nome, fez seus, adaptando, na medida do possível, os sons da língua semita ao sistema fonológico próprio. Contudo, por muito importante que seja, esta contribuição limita-se, na verdade, quase exclusivamente, a substantivos, sendo virtualmente inexistentes expressões respeitantes às qualidades morais e outras noções abstratas.

Assim, naquilo que toca à significação dos arabismos do português, apontam-se as seguintes categorias semânticas: 1) designações de cargos e dignidades: alcaide, alferes, almoxarife; 2) termos castrenses: arraial, arrebate, alcácer, alcáçova, atalaia; 3) de administração: aldeia, arrabalde, alfoz; alfândega, alvará, almoeda; 4) de plantas cultivadas e silvestres: arroz, algodão, alcachofra, cenoira, laranja, açúcar, alfarroba, alecrim, açucena, alfazema; 5) de profissões e indústrias: alfaiate, alveitar, almocreve, alvanel, algoz, azenha, atafona, adobe; 6) de unidades de medida: almude, arrátel, alqueire, arroba; 7) de animais: atum, alcatraz, alforreca, alacrau, javali, 8) de particularidades topográficas: albufeira, alverca, algar, lezíria, recife; 9) de artigos de luxo e instrumentos de música: almofada, alcatifa, marfim, alfinete, adufe, rabeca, anafil, alaúde; 10) de produtos agrícolas e industriais: azeite, álcool, alcatrão; 11) da vida pastoril: zagal, alfeire, rês, tabefe, almece; 12) de arquitectura: aljube, chafariz, açoteia, alvenaria; 13) das ciências exatas: algarismo, álgebra, cifra, auge, etc. Há, também,, o adjetivo <<azul>>, o pronome indefinido <<fulano>>, a interjeição <<oxalá>>, a preposição <<até>>.

Compreende-se, então, que o léxico de uma língua de civilização, como a língua portuguesa, é extremamente complexo na sua composição, pois resulta de um trabalho multissecular de elaboração e de seleção, cujos princípios se situam bastante para além da época em que o português se manifesta como instrumento literário, nos primeiros documentos escritos. E, como sucede com o léxico das demais línguas de cultura, nunca será possível reconstituir todas as fases do vocabulário português e destrinçar a contribuição das muitas gerações que nele colaboraram até se constituir o magno edifício que hoje enche de orgulho o mundo da lusofonia.

DICAS DE GRAMÁTICA

XÉROX OU XEROX ?

- As duas formas podem ser usadas: se você pronuncia como palavra oxítona, escreva xerox, sem o acento gráfico, a exemplo de outras marcas registradas que se tornaram nomes comuns, como pirex, gumex, perfex, durex etc. A opção é o vocábulo acentuado - xérox - de acordo com a norma ortográfica relativa às paroxítonas terminadas em x, tal qual fênix, ônix, látex e dúplex (também pronunciado duplex).

GRAFIA DUPLA

Quando existem alternativas de pronúncia e escrita, é bobagem ficar corrigindo as pessoas que falam ou escrevem diferente da gente. Deixando a escolha a cada um, vejamos outros casos de dupla grafia ou de uso optativo entre duas formas de se expressar:

· soalho e assoalho

· porcentagem e percentagem

· quatorze e catorze

· quota e cota

· quociente e cociente

· quadriênio e quatriênio

· mestria e maestria

· vitrina e vitrine

· nuança e nuance

· termelétrica e termoelétrica

· hidrelétrica e hidroelétrica

· garçom (pl. garçons) e garção (pl. garções)

· aluguel (pl. aluguéis) e aluguer (pl. alugueres)

· maquiagem e maquilagem

· abdome e abdômen

· germe e gérmen

· humo e húmus

· bile e bílis

· antisséptico e anti-séptico

· infarto e enfarte [mas não * infarte]

· destrinçar e destrinchar

· a maquinaria e o maquinário [mas não * a maquinária]

· aterrissar e aterrizar [formação vinda de ‘aterrar + sufixo izar’, eis uma forma conciliadora para quem prefere a pronúncia com som de z]

· de tarde e à tarde.

· de pé e em pé [no sentido de estar ereto sobre os próprios pés, não sentado nem deitado, enquanto ‘ir a pé’ significa deslocar-se sem veículo algum].

A INFLUÊNCIA ESPANHOLA NO PORTUGUÊS

 

 

Luísa Galvão Lessa colunaletras@yahoo.com.br

 

Falamos, em artigos anteriores, da influência de outras culturas na constituição do vocabulário português. Herdamos palavras latinas, gregas, germânicas, celtas, árabes, francesas, inglesas, africanas, indígenas etc. Hoje, comentamos a contribuição espanhola ao léxico da língua portuguesa.

Antes de tudo é bom dizer que a influência de outras culturas, no idioma português, representa uma riqueza e não um prejuízo como alguns possam acreditar, pois as palavras estrangeiras, de origens diversas, são assimiladas, no curso do tempo, ao ponto dessas formas adquiriram direito de vernaculania, que é, em síntese, a cidadania da palavra.

A língua portuguesa, segundo sua história externa, nasceu no oeste da Península Ibérica, Europa Ocidental, onde estão Portugal e Espanha. Essas terras eram domínio do Império Romano, há mais de 2000 anos. Quando o Império Romano caiu, no século V, a dialetação do latim se intensificou e vários dialetos foram se formando. No caso específico da península, foram línguas como o catalão, o castelhano e o galego-português (falado na faixa ocidental da península) as trilhas que conduziram ao surgimento do português. E foi o galego-português, precisamente, que gerou o português e o galego (mais tarde uma língua falada apenas na região de Galiza, na Espanha).

Entre meados do séc. XV e fins do séc.XVII o espanhol serviu como segunda língua para todos os portugueses cultos. Os casamentos de soberanos portugueses com princesas espanholas tiveram como efeito uma certa “castelhanização“ da corte. Os 60 anos de dominação espanhola acentuaram esta impregnação lingüística. É somente depois de 1640, com a Restauração e a subida ao trono de D. João IV, que se produz uma certa reação antiespanhola. O bilingüismo, todavia, perdura até o desaparecimento dos últimos representantes da geração formada antes de 1640. A maioria dos escritores portugueses escreve também em espanhol, por exemplo: Gil Vicente, Sá de Miranda, Luis de Camões, Francisco Manuel de Melo.

O volume de contribuição do espanhol, ao português, data, essencialmente, da época do predomínio político e literário da Espanha. Alguns dos termos, em causa, situam-se no ambiente cortesão: <<cavalheiro>>, <<lhano>>, <<airoso>>; outros se referem a noções militares: <<cabecilha>>, <<caudilho>>, <<guerrilha>>; outros à terminologia taurina: <<ganadaria>>, <<bandarilha>>, <<muleta>>; outros a costumes e vestuário tipicamente espanhóis: <<tertúlia>>, <<chiste>>, <<boina>>, <<mantilha>>, abstraindo de muitos outros vocábulos, pertencentes a campos semânticos diversos, como <<faina>>, <<trecho>>, <<tijolo>>, <<moçoila>>, <<hediondo>>,<< moreno>> e o próprio étnico castelhano, que usurpou o lugar do ant. castelão. Diga-se, ainda, que existem não poucos castelhanismos perfeitamente integrados na fonética do português e, por isso, difíceis de identificar.

A partir do séc. XVIII o espanhol deixa de desempenhar o papel de segunda língua de cultura, que passa então a ser exercido pelo francês. É nos livros franceses que os portugueses vão buscar boa parte de sua cultura, e é por intermediário dele que entram a maioria das vezes em contato com o mundo exterior. Mas essa nova tendência não apaga da língua camoniana a forte presença espanhola que perdura, na língua portuguesa, até os dias atuais.

DICAS DE GRAMÁTICA

PARA MIM / PARA EU LER

É um hábito muito arraigado no Brasil a fala "disse para mim ir, para mim trabalhar, para mim descansar". Tem uma explicação para isso, quando se considerar que toda língua transplantada é mais arcaizante que a original: no período em que se falava o português arcaico – entre os séculos XII e XVI, justamente quando o Brasil foi descoberto – usava-se o pronome pessoal sujeito pelo pronome complemento e vice-versa. Exemplos apresentados na Gramática Histórica de Ismael de Lima Coutinho (1968: 67): o coração pode mais que mim [em vez de ‘que eu’] e enforcariam ele [‘ele’ no lugar de ‘o’]. E assim usamos até hoje.

- Na verdade, segundo o padrão culto da língua portuguesa, o “mim” não faz nada. Então prefira dizer: Para eu ler, para eu fazer, para eu dizer etc.

  • Entregou o bilhete para mim. – Entregou o bilhete para eu ler depois.
  • Este presente é para mim? – Este presente é para eu embrulhar?
  • O abacaxi é para mim. – O abacaxi é para eu descascar.
  • Fez um pavê para mim. – Fez um pavê para eu experimentar.

ESTÁVAMOS "EM" QUATRO À MESA?

- Em absoluto! O “em” não existe: Estávamos quatro à mesa. Da mesma forma: Éramos seis. Ficamos cinco na sala.

Sentar na mesa/sentar à mesa

Sentou "na" mesa para comer. Sentar-se (ou sentar) “em” e “na” é sentar-se em cima de. Assim, prefira dizer: Sentou-se à mesa para comer. / Sentou ao piano, sentou-se à máquina, sentou-se ao computador.

FEBRE ALTA?

Na verdade, toda febre é temperatura alta. Febre baixa, pelo menos na medicina gramatical, não existe. Outro exemplo: tirar a pressão. Se uma enfermeira tirar a minha pressão sanguínea eu morro na hora. É bem melhor pedir-lhe para medir a pressão.

sábado, 1 de junho de 2013

O BRASIL DAS SUPERSTIÇÕES E CRENDICES

 

Há, entre o povo brasileiro uma mistura singular de superstições e crendices, a ponto de não se saber onde começa a crendice e ou a superstição. E, embora as crenças populares sejam supersticiosas, não se deve confundir superstição com crendice. Por exemplo, acreditar em bruxas, almas penadas, fantasmas, não é superstição. Superstição é quando uma pessoa atribui a certos fatos, ou criaturas, animais ou coisas, poderes maléficos ou benéficos, dependendo de  circunstâncias variáveis. Ex.: encontrar um gato preto não tem importância, mas se ele correr na nossa frente é que dá azar.

As superstições participam da própria essência intelectual humana e não há momento da história do mundo sem sua inevitável presença. A elevação dos padrões de vida, o domínio da máquina, a cidade industrial ou tumultuosa, em sua grandeza assombrosa, são tantos viveiros de superstições, velhas, renovadas e readaptadas às necessidades da vida. Assim, todas as profissões têm o seu “corpus” supersticioso, e aqueles que confessam sua independência absoluta da superstição são porque não chegaram no instante da confidência reveladora.

A superstição é sempre de caráter defensivo, respeitada para evitar mal maior ou distanciar sua efetivação. Os sinais exteriores são os amuletos que, incontáveis, transformam-se em adornos, jóias e vivem na elegância universal dos dias. Essa legítima defesa estende-se às zonas mais íntimas do raciocínio humano e age independente de sua ação e rumo. A própria etimologia latina mostra que superstição é uma sobrevivência em sua preservação: Superstição [Do lat. superstitione.] Sf. 1. Sentimento religioso baseado no temor ou na ignorância, e que induz ao conhecimento de falsos deveres, ao receio de coisas fantásticas e à confiança em coisas ineficazes. Enquanto Crendice,[De crer; formação irreg.] Sf. 1. Crença em presságios tirados de fatos puramente fortuitos; 2. Apego exagerado e/ou infundado a qualquer coisa.

As superstições, como os pecados, podem dar-se por pensamentos, palavras e atos.  Por exemplo: por pensamento – Fazer três pedidos quando se vê uma estrela cadente; por palavras – dizer Isola! Quando alguém se referir a um malefício acontecido a outra pessoa; por atos – levantar da cama com o pé direito para que o dia lhe seja benéfico.

A idéia da superstição é ambivalente, pois existe a crença de que há sempre meios de anular a força positiva ou negativa de qualquer elemento. Se isso acontece, deve-se fazer aquilo para prevenir o mal, ou realizar tais práticas ou trazer objetos especiais. Ex.: Quando a gente encontra ou fala com pessoa que dá azar, convém bater na madeira ou fazer figa com a mão. Daí o apelo a talismãs, amuletos, esconjuros, orações e todo um arsenal supersticioso, muitos dos quais servem não só para nos defender do azar ou mau-olhado, como para projetá-lo nos inimigos ou desafetos, como os espelhinhos dos chapéus dos dançadores de Reisado.

As Crendices podem referir-se às variadas manifestações do folclore espiritual, como: fantasmas, duendes, figuras míticas e assombrações, com também a ritos religiosos católicos ou fetichistas. Ex.: acreditar que Santo Onofre evita a embriaguez ou não deixa faltar dinheiro na carteira; que Santa Bárbara afasta as tempestades; assim como crer em orações fortes, medalhas, rosários, crucifixos, patuás etc. Existem crendices e superstições referentes à natureza: sol, lua, estrelas. Apontar para estrela faz nascer verruga na ponta do dedo. Ou então acerca da água, da chuva, dos ventos ou das nuvens. Ex.: moça que come na panela, chove no dia do casamento. O sol cura tersol.

Existem muitas outras crendices, em meio ao povo brasileiro: jogar moedas para fora de casa à meia-noite atrai riqueza para todos que moram nela; No último dia do ano, é bom fazer uma bela limpeza na casa, varrendo-a de trás para frente. O lixo deve ser colocado para fora, assim como todo e qualquer objeto quebrado. Lâmpadas queimadas precisam ser trocadas. Nada de roupas guardadas do avesso; Usar lençóis limpos, na primeira noite do ano, deixa os possíveis problemas do ano que passou na máquina de lavar; Para acabar com os problemas de coluna, basta colocar na noite de Ano Novo um pedaço de cana, da altura da pessoa, debaixo da cama; Para ter sorte no amor, à meia-noite, você deve, em primeiro lugar, cumprimentar uma pessoa do sexo oposto; Folha do trevo de quatro folhas é sinal de sorte, dinheiro que vai chegar no bolso.

Observa-se que tanto as crendices quanto às superstições se encontram relacionadas com as plantas, animais, fogo, objetos,acontecimentos meteorológicos, enfim, tudo o que nos rodeia. Desse modo, as superstições e as crendices existem tanto em pessoas das esferas populares, quanto nas camadas mais elevadas da sociedade, e quando elas não são consequência do medo, o são de crenças tradicionais, muitas das quais se perdem nas noites dos séculos, derivando, por vezes, de arquétipos milenares.

DICAS DE GRAMÁTICA

FEBRE ALTA EXISTE, PROFESSORA?
- Na medicina gramatical não existe febre alta nem febre baixa. Na verdade, toda febre é temperatura alta. Então basta dizer: Ele não tem febre ou ele tem febre.
A ENFERMEIRA PODE TIRAR A PRESSÃO DO PACIENTE?

- Olha, se ela fizer isso o paciente morre. O que ela deve fazer, seguindo orientação médica, é medir a pressão do paciente.
ENTREGA EM DOMICÍLIO ou ENTREGA A DOMICÍLIO ?

- Entrega em domicílio é o certo, segundo a gramática normativa, porque "entregar não é verbo de movimento" e porque se diz "entrega em casa".
Então está equivocada a propaganda do Supermercado Gonçalves, com entrega a domicílio. Deverá dizer: O Gonçalves entrega em domicílio.

A vida da gente é feita assim: um dia o elogio, no outro a crítica. A arte de analisar o trabalho de alguém é uma tarefa um pouco árdua porque mexe diretamente com o ego do receptor, seja ele leitor crítico ou não crítico. Por isso, espero que os visitantes deste blog LINGUAGEM E CULTURA tenham coerência para discordar ou não das observações que aqui sejam feitas, mas que não deixem de expressar, em hipótese alguma, seus pontos de vista, para que aproveitemos esse espaço, não como um ambiente de “alfinetadas” e “assopradas”, mas de simultâneas, inéditas e inesquecíveis trocas de experiências.