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quarta-feira, 26 de março de 2014

LARGO USO DA PALAVRA “COISA”

 

 

A Língua Portuguesa é um idioma bastante rico. Também os seus falantes possuem uma criatividade invejável. Assim, há palavras que são utilizadas para designar objetos, dar-lhes atributos, ações, circunstâncias. E uma dessas palavras é “COISA”. Segundo as gramáticas de Língua Portuguesa, "coisa" pode ser substantivo, adjetivo, advérbio, verbo. Segundo o Dicionário Aurélio: De coisa + -ar. Verbo transitivo direto. Bras. Pop.1.Refletir, matutar; imaginar. Verbo transitivo indireto. 2.Bras. Pop. Cuidar; preparar: F. está coisando do almoço. Verbo intransitivo. 3.Refletir, matutar.

No meio popular, esse verbo “coisar” substitui qualquer outro que não ocorre a quem fala. Logo, “coisa” tem mil e uma utilidades na nossa língua. Quando nos falta uma palavra, “coisa” entra para traduzir o pensamento do falante. De igual modo, nas regiões do Brasil, “coisa” ganha os usos mais diversos, a depender do gosto e dos costumes do lugar. Então, pode-se dizer que essa palavra “coisa” é uma espécie de muleta, que ampara o falante quando este não encontra a palavra exata para exprimir uma ideia. Assim, essa palavra “coisa” vai ganhando as cargas semânticas mais diversas e interessantes. Ela está presente no cotidiano de nossas vidas, na poesia, na música, na literatura.

Em Portugal, por exemplo, “coisar” equivale ao ato sexual, como traduz José Machado, em seu dicionário. No Brasil, em especial no Norte e Nordeste, “coisas” é sinônimo de órgão genital: "E deixava-se possuir pelo amante, que lhe beijava os pés, as coisas, os seios" (Riacho Doce, José Lins do Rego). Na Paraíba e em Pernambuco, "coisa" pode ser cigarro de maconha. Em Olinda, o bloco carnavalesco “Segura a Coisa” tem um baseado como símbolo em seu estandarte. Em Minas Gerais, todas as coisas são chamadas de trem. Menos o trem, que lá é chamado de "a coisa". A mãe está com a filha na estação, o trem se aproxima e ela diz: "Minha filha, pega os trem que lá vem a coisa!".

Na música popular brasileira muita gente boa lançou mão dessa palavra. Alceu Valença canta: "Segura a coisa com muito cuidado / Que eu chego já." Vinícius de Moraes diz: “Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça (...)". A garota de Ipanema era a coisa mais linda do mundo. Depois, novamente Vinícius e Tom Jobim: “Mas se ela voltar, se ela voltar / Que coisa linda / Que coisa louca." Jobim e Vinicius sabiam das coisas. Caetano Veloso também sabe, olhem como canta: “Alguma coisa acontece no meu coração". E, na música "Qualquer Coisa", ele diz: "Alguma coisa está fora da ordem."Também Jorge Aragão/Almir Guineto/Luis Carlos da Vila sabem usar a palavra: "Ô Coisinha tão bonitinha do pai...". Lembram?

E tem mais, “coisa" tem história na MPB. No II Festival da Música Popular Brasileira, em 1966, estava na letra das duas vencedoras: Disparada, de Geraldo Vandré: "Prepare seu coração / Pras coisas que eu vou contar", e A Banda, de Chico Buarque: "Pra ver a banda passar / Cantando coisas de amor". Naquele ano do festival, no entanto, a coisa tava preta (ou melhor, verde-oliva). E a turma da Jovem Guarda não tava nem aí com as coisas: "Coisa linda / Coisa que eu adoro". Cheio das coisas. As mesmas coisas, Coisa bonita, Coisas do coração, Coisas que não se esquece, Diga-me coisas bonitas, Tem coisas que a gente não tira do coração.

O nosso rei, Roberto Carlos, tem preocupação com a “coisa e canta: “Coisa bonita, coisa gostosa, quem foi que disse que tem que ser magra pra ser formosa? Coisa bonita, coisa gostosa, voce é linda, é do jeito que eu gosto, é maravilhosa”. Para Maria Bethânia, o diminutivo de coisa é uma questão de quantidade, afinal "são tantas Coisinhas miúdas". Gal Costa diz: "Esse papo já tá qualquer coisa...Já qualquer coisa doida dentro mexe."

Na literatura, a "coisa" é coisa antiga. Antiga, mas modernista.Oswald de Andrade escreveu a crônica "O Coisa", em 1943." A Coisa" é título de romance de Stephen King. Simone de Beauvoir escreveu "A Força das Coisas". Michel Foucault escreveu a fantástica obra "As Palavras e as Coisas" , e por aí vai a “coisa”.

Percebe-se que a palavra “coisa” não tem sexo (gênero), pode ser masculina ou feminina. Coisa-ruim é o capeta, o câncer, a hanseníase, a roubalheira no Brasil. Coisa boa é o Brad Pitt, Richard Gere, Tom Cruise. Nunca vi coisa assim! Coisa de cinema!

Por essas e outras é preciso colocar cada coisa no devido lugar. Uma coisa de cada vez, é claro, pois uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. E tal coisa e coisa e tal. O cheio de coisas é o indivíduo chato, cheio de” não-me-toques”. O cheio das coisas, por sua vez, é o sujeito estribado. Gente fina é outra coisa. Para o pobre, a coisa está sempre feia: o salário-mínimo não dá para coisa nenhuma. A coisa pública não funciona no Brasil. E a “coisa” não para por aí nem aqui. Tem essa “coisa” do mensalão e lá vem mais “coisa” em 2014. Melhor ir com Eduardo Campos e Marina Silva, ou a coisa vai ficar preta!

Mas, finalmente, para o pobre a coisa está sempre feia. Para os ricos as “coisas” são boas. Então, muita atenção, em ano de eleição vai ter muita “coisa” para enganar o eleitor. Vamos ficar de olho nessas “coisas”. Não vendam o voto por qualquer “coisa”, por o correto é dar valor às “coisas”.

DICAS DE GRAMÁTICA

ALUGA-SE ou ALUGAM-SE apartamentos?

O certo é “ALUGAM-SE apartamentos”.

A presença da partícula apassivadora “SE” faz a frase ser passiva, ou seja, o sujeito é quem sofre a ação do verbo(= apartamentos), e não quem pratica a ação de alugar. É o mesmo que eu dissesse que “apartamentos são alugados”.

terça-feira, 25 de março de 2014

A LEITURA NÃO É ATIVIDADE GRATUITA DE ADIVINHAÇÕES

 

 

 

A leitura constitui, antes de mais nada, uma forma de comunicação. É como diz Eveline Chameux (1975, p.23) "Lire cést tenir, dans une situation de communication differée, le rôle de recepteur". O ato de ler implica, sempre, a recolha de informação visual, porque a leitura não consiste numa atividade gratuita de adivinhações. Quando a informação visual é insuficiente, as previsões tornam-se aleatórias. É, assim, a leitura, tão importante na vida da humanidade, envolve atividades diversificadas, em razão da variação própria da natureza do processo comunicativo. Para além da leitura em voz alta e da releitura, poder-se-ão distinguir, com Éveline Charmeux, (1975, p.34) cinco situações de leitura:

Situações de informação - em que o leitor se interessa apenas pelo conteúdo da mensagem e não pela mensagem em si mesma (que frequentemente destrói). Trata-se de uma leitura rigorosa, objetiva e rápida. Como exemplo, aponta a leitura de jornais, de circulares e outras mensagens de ordem administrativa e profissional.

Situações de consulta - trata-se de encontrar uma informação entre um conjunto heterogêneo, por exemplo, num dicionário ou numa enciclopédia.

Situações de ação - onde a compreensão da mensagem se traduz em atos, como nas receitas de cozinha, livros de instruções, regras de jogos.

Situações de reflexão - a leitura de uma obra literária, filosófica ou científica é seguida ou prolongada pela reflexão sobre o assunto, personagens etc.

Situações de distração - quando se lê uma revista no consultório médico, por exemplo, ou quando a leitura constituí uma espécie de evasão.

A leitura constitui um processo adaptativo e flexível, variando com a espécie de texto e os objetivos do leitor , não cabendo, por isso, num único modelo teórico. Se não existe apenas um processo de leitura, também não pode existir apenas um modelo de leitura. Todavia, partimos do princípio de que existem invariantes comuns a todos os tipos de leitura e que valerá a pena procurar, nas investigações já realizadas neste domínio, contributos que permitam configurar um conceito atualizado de leitura.

Na escola, o ensino/aprendizagem da leitura, a despeito de posicionamentos metodológicos extremos, deveria ter em conta, por um lado, que o estudante tem necessidade de aprender a recolher e a utilizar a informação visual; por outro, que deve ser também estimulado a economizar essa informação, recorrendo à informação não visual, e melhorando, por essa via, a eficiência da leitura e aprendendo a olhar o mundo sob uma ótica otimista e progressista.

DICAS DE GRAMÁTICA

"AUTORRETRATO" E "PORTA-RETRATO": REGRAS DIFERENTES

Em tempos de reforma ortográfica, muita gente pensa que as alterações foram bem mais abrangentes do que realmente foram. Há quem não compreenda por que "autorretrato" passa a ser escrito com "rr" e "porta-retrato" continua com hífen.
Esse tipo de confusão se desfaz quando a pessoa olha o que deve ser olhado: o início da palavra. "Auto-" é um prefixo, "porta-" é uma forma do verbo "portar". Os prefixos terminados em vogal unem-se, agora sem hífen, aos termos iniciados por "r" mediante a duplicação dessa consoante.
A regra, porém, não se estende a substantivos compostos, que têm dois ou mais radicais. Assim, "porta-retrato" continua com hífen, como a maioria dos demais compostos iniciados por verbo ("porta-bandeira", "abre-alas", "lança-perfume", "arranca-rabo", "arrasta-pé" etc).

“VIDE” E “VEDE”

"Vide. Essa expressão é usada amiúde, como imperativo do verbo ver. Ex.: Vide rodapé; vide página 13 etc. Pergunto se o correto não seria ‘vede’ e em que hipótese devemos usar o ‘vide’ acertadamente."

Usa-se vide quando se quer remeter alguém a outro livro, capítulo, página, trecho. Abrevia-se v. ou V.  – inicial maiúscula quando no início da frase.

Vede é o imperativo do verbo ver, que se refere a "vós", pronome raramente usado no Brasil, motivo por que ganha preferência a forma latina "vide", que se traduz por veja ou até mesmo pelo infinitivo, por exemplo: ver  pág. 10. Ver referência no final do capítulo.

sábado, 15 de março de 2014

COMO É O AMOR DE AMAR…

 

 

amar de verdade

 

   É sentir, repentinamente, os lábios falarem do amor para si como uma necessidade.

   É os dois, ao olharem para o futuro, fitarem na mesma direção.

   É uma parte sua viver com a outra, e a outra com uma parte sua...

   É deixar brotar o sentimento como água pura e cristalina.

   É um realizar para o outro o mundo que sonha para si.

   É oferecer o manto do sorriso para aliviar alguma dor ou tristeza.

   É construir um castelo no céu com cimento de nuvens e tijolos de estrelas.

   E exultar-se de contentamento ao imaginar o ser amado na sua imaginação.

   É desejar ter nos ouvidos a sua voz como uma oração.

   É nunca desejar outro ser por o seu ser estar pleno de Amor.

   É jamais oscilar diante do pêndulo das dificuldades.

   É revestir-se de Amor, tanto no dar quanto no receber.

   É ser feliz fazendo o outro ser feliz.

   É nunca dizer Não quando pode dizer Sim.

   É sentir a presença na saudade da ausência.

   É completar-se no outro sem ser o outro.

   É debruçar-se sobre si e sentir a felicidade de viver a dois.

A vida da gente é feita assim: um dia o elogio, no outro a crítica. A arte de analisar o trabalho de alguém é uma tarefa um pouco árdua porque mexe diretamente com o ego do receptor, seja ele leitor crítico ou não crítico. Por isso, espero que os visitantes deste blog LINGUAGEM E CULTURA tenham coerência para discordar ou não das observações que aqui sejam feitas, mas que não deixem de expressar, em hipótese alguma, seus pontos de vista, para que aproveitemos esse espaço, não como um ambiente de “alfinetadas” e “assopradas”, mas de simultâneas, inéditas e inesquecíveis trocas de experiências.