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quarta-feira, 28 de setembro de 2016

UM OLHAR SOBRE O ENSINO DE PORTUGUÊS





As transformações econômicas e culturais ocorridas no mundo, aliadas à dinamicidade do mercado de trabalho causaram inúmeras mudanças na sociedade brasileira. Por isso, esse mundo contemporâneo está a exigir um profissional que domine a língua portuguesa com maestria, saiba ler um texto e escrever outro.
As novas demandas surgidas, na pós-modernidade, conferiram à leitura e à escrita importância nunca antes alcançada. Todavia em um mundo no qual a aquisição de informação torna-se um diferencial significativo, não basta mais somente aprender a ler e a escrever, é preciso ir além, fazer uso da língua como prática social, como um instrumento, um veículo que permita ao usuário se situar bem na vida cotidiana. Para tanto, faz-se necessário que os referenciais pedagógicos visualizem o ensino escolar como um processo  contínuo de apropriação das práticas sociais, as quais se manifestam através de textos (verbais e não verbais) que transitam nos diversos espaços públicos, formais e informais.
Todo profissional, particularmente aqueles de Língua Portuguesa, deve ter o olhar voltado para a formação de cidadãos críticos e reflexivos. Como afirma Imbernón (2005, p. 15) “formar o professor na mudança para a mudança”. A boa ou a má formação do professor irá refletir nos resultados do ensino e na formação intelectual das pessoas.
O que se deseja, com este texto, é despertar, no professor de língua portuguesa, a consciência para a necessidade de se revisar as práticas de estudo e aplicação da gramática normativa em sala de aula. Espera-se despertar  os espíritos adormecidos e/ou acomodados em práticas antiquadas, no sentido de fazer brotar em cada mestre, o amor pelo ensino e pela disciplina língua materna, fonte importante para a compreensão das demais áreas do conhecimento.
Uma estratégia produtiva, acredita-se, seja a  leitura e a  (re)escritura de textos, vistas como um meio e um fim de se avançar numa educação de qualidade, numa maneira democrática de ler e dizer do mundo, metodologia pautada na inclusão do ser humano no seu próprio mundo. Essa prática redundaria no bom alvo a ser atingido para o aprimoramento da qualidade e da humanização do sistema de ensino de português, calcado em regras, em decoração de normas e não na prática da escrita e elaboração de textos.
Paulo Freire (1994, p. 98), um dos maiores filósofos educacionais do Brasil, disse que “a leitura de mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele”. Essa é uma das ideias mais brilhantes de Freire. A minha leitura de mundo  precedendo e determinando a minha leitura da palavra, e esta sendo fundamentalmente essencial para a continuidade e a ampliação daquela.Neste sentido, poder-se-ia dizer que texto e mundo se confundem: a leitura e/ou a escrita do texto pode decifrar o mundo.
Sabe-se que ler e escrever são, pois, um direito de todos e é dever da escola possibilitar a realização deste processo aos alunos. É desumana a escola  que não viabiliza aos estudantes, em ambiente escolar, o acesso a saberes e práticas que dignifiquem a vida do ser humano enquanto cidadão pensante e agente da sua própria história. A escola é o espaço de abolir preconceitos e estabelecer a democracia e o respeito de uns pelos outros. Assim, a escola é o espaço de incluir os excluídos pela sociedade e pelo mundo. É o espaço de gerar sonhos e colaborar para a realização deles.
Entende-se o educar como uma arte e, assim sendo, ela assume, ao mesmo tempo, as funções de compartilhar saberes, prazeres e sonhos. Tomando esse ponto de vista como válido e relevante, não se pode negar que a arte não exclui. Ela, ao contrário, inclui o leitor/apreciador no mundo que ela cria/traduz/retrata. O artista mescla realidade e fantasia na busca incessante de compreender o seu mundo e os outros mundos, nas tonalidades grave e  agudo.
Igualmente os educadores deveriam assumir a sua função, inspirados nos trabalhos dos artistas (teimando, e sofrendo, e suando, e limando, e fazendo, e refazendo). A educação não está pronta, o ensino também não. A escola deve ser espaço para criar e recriar, não para copiar e reproduzir ideias e sentimentos antigos. É preciso mudar a concepção de práticas educacionais prontas. Assim, agindo, poder-se-ia, talvez,  pensar num mundo mais fraterno, justo e solidário para todos, capaz de ser um lugar comum para abrigar os sonhos humanos.
Assim sendo, a educação como o lugar para abrigar e realizar sonhos é o ideal sonhado pelos bons educadores. E a democracia cultural se alcança através de um processo de distribuição igualitária de  “bens simbólicos”, onde os valores de significações estejam acima dos valores de mercadoria.
O acesso à leitura e à escrita aqui é visto como uma condição de existência dessa democracia cultural. É uma forma de se inserir seres humanos no próprio mundo em que vivem e de onde foram excluídos por não dominarem a leitura/escrita.
         Compreende-se, por fim, ser a linguagem uma capacidade humana de articular significados coletivos e compartilhá-los em sistemas  arbitrários de representação, que variam de acordo com as necessidades e experiências da vida em sociedade. Dessa forma, pode-se atribuir à língua a responsabilidade de construção e “desconstrução” dos significados sociais, o que conduz a situá-la no emaranhado das relações humanas, nas quais se insere o apendiz.

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A vida da gente é feita assim: um dia o elogio, no outro a crítica. A arte de analisar o trabalho de alguém é uma tarefa um pouco árdua porque mexe diretamente com o ego do receptor, seja ele leitor crítico ou não crítico. Por isso, espero que os visitantes deste blog LINGUAGEM E CULTURA tenham coerência para discordar ou não das observações que aqui sejam feitas, mas que não deixem de expressar, em hipótese alguma, seus pontos de vista, para que aproveitemos esse espaço, não como um ambiente de “alfinetadas” e “assopradas”, mas de simultâneas, inéditas e inesquecíveis trocas de experiências.