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sábado, 10 de novembro de 2018

TECIDO DO CORAÇÃO


 Levar o link abaixo para a barra do navegador e conhecer o belo livro "TECIDO DO CORAÇÃO


http://www.carmovasconcelos-fenix.org/Escritores/Luisa_G_L_Kalberg/Luisa_G_L_Kalberg-02.htm



PRÓLOGO
__________________________________
Por Renã Leite Pontes*

A leitura serena de ‘Tecido do Coração’ permitirá ao leitor crítico uma infinidade de inferências. A principal delas, que aprecio, é a íntima relação de caráter existente entre a história de vida da autora e a poesia que nos trouxe a lume. Aqui, a poesia é o sentimento que sobra ao coração e sai pela mão.
Com essa obra poética Luísa Galvão Lessa Karlberg vai dar ao mundo - Tecido do Coração - um singularíssimo livro de poemas, em um lugar onde a poesia normalmente não passa da folha onde foi esboçada, nem seus autores ultrapassam o limite da fronteira municipal. Essa poesia, eu creio, vai ganhar mundo, povoar mentes e corações, semear lições a dizer que a vida é bela quando não se tem medo dela. É como diz Fernando Pessoa: “Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido”, assim sente a autora.
Ainda, diz um adágio que ‘o meio faz o homem’, mas neste caso, foi a inquietude intelectual de uma jovem ribeirinha que triunfou sobre o seu meio hostil, fazendo-a superar limitações, geográficas, financeiras e culturais, para urdir uma vitoriosa história pessoal de vida, aqui expressa, em livro nascido do cultivo humano à herança cultural da poesia.
Sendo menina nascida às margens barrentas do Igarapé Humaitá, Seringal São Luís - localizado às cabeceiras do Rio Muru, distante de Tarauacá oito dias de barco, diria o vulgo tratar-se de mais uma história de personagem comum, sem sonhos ou promessa de expressão.Mas, para o orgulho dos familiares, da sua localidade e de uma plêiade de admiradores, com o mesmo esforço que um dia despendeu para matar a fome alcançando os frutos no alto das árvores gigantes da Amazônia, o poder da vontade de uma acreana idealista deu a Tarauacá, ao Brasil, e ao mundo o que a localidade, a política ou governo algum pode “crear” - o caráter fértil de uma das suas filhas mais veneráveis. Nascida à beira d’água, Luísa Galvão Lessa Karlberg não quis pescar peixes, mas ler muitos livros, cruzar o mundo, conquistar títulos. Assim, respeitada e realizada, intelectualmente, nossa doutora é advogada e Professora Universitária; autora de incontável número de publicações importantes que enriqueceram o mundo científico, acadêmico e a Literatura local; possui doutorado em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; pós-doutorado em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá; assento na Academia Brasileira de Filologia e Academia Acreana de Letras.
Também, não foi por acaso que recebeu convite estadunidense para integrar o quadro de Membros da International Writers end Artists Association - IWA e ser Confreira de Eduardo Galeano (Uruguai); Toni Morrison (Prêmio Nobel de Literatura - USA); Fernando Henrique Cardoso (Presidente do Brasil, 1994 - 2002); Príncipe Dom Duarte Nuno João Pio de Orleans e Bragança (Portugal) e mais uma infinidade de Artistas consagrados, colecionadores de Arte e Escritores notáveis, espalhados por mais de uma centena de países onde a IWA tem seu espectro. É fato que, por aqui, jamais se imaginou que uma acreana pudesse ostentar a dignidade de localizar o Acre no centro da Cultura mundial. Lessa é a primeira mulher da Amazônia a nos orgulhar com a envergadura de tão alto diploma vitalício, que lhe confere direito de indicar, votar e ser votada para os prêmios da Academia Sueca - Nobel e Literatura e Prêmio Internacional de Ativista da Fundação Gleitsman. O convite selado veio da parte da Condessa di Santa Sofia de Heristal - a Senadora e Embaixadora at Large do Parlamento Mundial para Assuntos de Segurança e Paz e Membro Perene do Conselho de Negócios da ONU, a Presidente de Honra da IWA Terezinka Pereira.
De tempo em tempo, na história da humanidade, chegam determinados momentos históricos em que a “filosofia vigente” não consegue mais responder às indagações e inquietações de uma determinada sociedade. Quando isso ocorre, a filosofia superada é suplantada por uma “nova filosofia emergente”, que pode ser até antagônica à filosofia dominante que lhe antecedeu. Estamos passando, agora, no Brasil, por um momento destes, com sintomas manifestos de desorientação moral, desmoralização institucional, confusão intelectual, oportunismo financeiro e apatia cultural que se estende da beira-mar à Amazônia - local onde as tabocas, os cipós e os galhos secos impedem a visão das árvores. 
É justamente nesta “hora sexta” que vem a lume ‘Tecido do Coração’, criação literária genuína, colhida na experiência de uma vida dedicada à educação de gerações. Sabedoria humana adquirida nos livros e no nobre ofício de Professora - uma voz ligada ao povo, sem os rigores dos que manejam o estilo. No conteúdo extemporâneo e universal da obra, a autora manifesta a intenção poética de oportunizar a serena reflexão a respeito dos temas existenciais humanos, como o amor, a morte, a felicidade, a tristeza, o lamento e as consequências das contradições humanas, traduzidas pelo: 
“... martelo de Deus a [nos] bater nos dedos...” (p. 23).
Tratar-se de uma publicação necessária à realização pessoal da autora que materializa sua verve poética na criação livre, elegendo o amor como abordagem temática principal. E cumpre este mister declinando das  ferramentas e recursos comuns à poesia, a exemplo da rima obrigatória e do metro. Com liberdade, competência e apurado senso estético, elege, em segundo plano, a prosa poética - estilo literário que apareceu como tendência marcante nas publicações acreanas a partir da última década - como digna de também figurar no seu livro de poemas:
“... Eu não quero roer caroços, eles estragam os dentes. Prefiro a polpa doce e macia das atas e frutas de conde. Essas são as minhas preferidas. Eu já não tenho paciência para lidar com mediocridades. Tornei-me uma pessoa exigente. Não quero estar em lugares onde desfilam vaidades. Eu prefiro as pessoas simples, inteligentes, que têm assunto e tutano na cabeça. Aborrece-me pessoas invejosas que tentam destruir quem elas admiram, cobiçando seus feitos, talento e sabedoria. Eu não suporto conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias, sobre as quais eu nem quero saber. [...] Embora seja uma mulher das Letras, já não tenho tempo para debater vírgulas...”. (Quando Já Se Viveu 60 Anos, p. 99).
A persona do amor, mulher que nunca é neutra, também figura na manifestação de personagens multifacetários - inclusive em Francês - que registram seus dramas (e tragédias) nas histórias de “doçura do mel”... ou desiludidas... São rostos desnudos de amantes que, em representação literária, sob o céu amazônico, expressam o anseio humano comum de encontrar o: “Amor Maior do Mundo”, “Amor Invisível”, “Amor Antigo” “Amor Atrevido” e outras infinitas formas de amor (ou de amar?) consoantes no livro.
O poema que praticamente abre o livro é “Bênção do Amor”. Um poemeto escrito em oito versos, sendo o “verso de prata” uma “redondilha maior”, o texto foi concebido para dar ao leitor o máximo de poesia em um mínimo de palavras: “...Refúgio das horas tristes, acolhe-me./Dá-me a bênção da poesia inatingível/E por isso, talvez a mais preciosa”. (p. 15).  O que mais me chamou à atenção em “Bênção” foi a simplicidade  invocatória e impressão de facilidade com que foi produzido, além da semelhança ocasional que guarda com os famosos versos de Goethe: “Oh Musas inefáveis,/ Oh formidável engenho Divino,/ Inspirai-me para que meu estilo/ Não desdiga da natureza do assunto.”
Do conjunto da obra, vou destacar aqui um recorte do poema monostrófico “Quem eu sou”, como mostra do vocabulário apurado e fluência de expressão da autora e, especialmente, pela demonstração de incrível capacidade de definição de um ser humano por si mesmo: “Eu sou a brisa que abranda os arredores,/ Eu sou a dança de salão elegante,/ Eu sou a cor que colore a vida [...] Eu sou a história minha,/ Eu sou pura como a flor,/ Eu sou doce como mel,/ Eu sou um pote de água,/ Eu sou nascente rumo ao poente” (p. 108).
Mais adiante, em “Você é assim”, diz: “Você é os brinquedos que brincou, As palavras que usou, O segredos que guardou,A criança que Deus criou”. Em ” AVESSOS DA VIDA” (p.111), percebe-se a determinação que move a sua poesia, o olhar sobre a vida, a maturidade, a grandeza humana, a serenidade da mulher corajosa, sem medo de usar palavras, em sentidos e figurações exatas na dimensão da vida: “Na vida já provei muitos dissabores, De risos zombadores,inveja, depreciação,Sobre as opiniões que tenho comigo”. Depois, em “Destino” (p.113), assegura: “O nosso corpo abriga uma alma, que é joia preciosa. Essa alma tem forças para vencer adversidades, que são como nuvens. Para vencê-las é suficiente manter a visão fixa no sol, seguir firme no ideal de sonhos, projetos e perspectivas”.      
Percebe-se, nas poesias, que as palavras não são traduções de um sentido mudo, mas criação aguçada de múltiplos sentidos. Aqui, a  linguagem não veste ideias, ao contrário, encarna significações, estabelece a significação entre a poesia e o mundo, sedimentando os significados que constituem uma cultura de sentir, pulsar, viver. A linguagem não é mais a seiva das significações, mas o próprio ato de significar, assim, a escritora, igualmente o ser falante, não pode governá-la voluntariamente, pois ela se faz sentir, vibrar, dizer, traduzir, significar, reinterpretar, contar, poetar, ao escrever: “Eu posso ser... A tinta da aquarela, A moça da janela, Que olha a passarela (EU POSSO SER A MOÇA DA JANELA, p. 114).
Por isso tudo, a obra literária não é um sistema fechado, ou seja, acabado e equilibradamente estruturado. Acredita-se que toda obra literária pode ser interpretada de diferentes maneiras, sem que isso comprometa a sua configuração original. Cada vez que o leitor toma contato com um poema, neste “Tecido do Coração”, acaba por reinventá-lo, na medida em que o reinterpreta segundo as suas representações psíquicas.
Aqui, igualmente Neruda, a autora apresenta a sua visão do mundo e da vida. Canta o amor, a esperança, a dor, o sofrimento, a justiça. Fala do rio, do luar, da noite, da chuva, do sol, das estrelas, como bálsamos e respostas para corações feridos. Privilegia, por outro lado, os contatos humanos,quando diz em “Meu Feitio”(p.116): Eu sou mulher campesina, da beira do rio, Faço da vida um poema macio, Pleno de tesouros e  encantos, Que escondem imensos acalantos”. Acredita não haver poesia sem o coração palpitar e  destaca, ainda, que a sociedade humana e seu destino são matéria sagrada e obrigação original para o poeta, quando fala do “Tempo na vida da gente” (p.119): Eu vejo o tempo passar ligeiro. Quando me apercebo já foi o ontem, estou no amanhã que se finda. Daí vem a pergunta: quanto tempo a gente perde nesta vida com bobagens e detalhes existenciais. Se fossemos somar os minutos jogados fora, notaríamos que perdemos anos inteiros”.
Vê-se, então, que as palavras não são traduções de um sentido mudo, elas são a criação de muitos sentidos. A linguagem de ‘Tecido do Coração’ não veste ideias, ao contrário, encarna significações, estabelece a significação entre o eu e o mundo, sedimentando os significados que constituem uma cultura, uma vida, um amor, uma saudade, um sentimento humano singelo. A linguagem não é mais a seiva das significações, mas o próprio ato de significar, assim, a escritora, tal qual um ser falante, não pode governá-la voluntariamente, deixa vazar a emoção “Caminhei pelo mundo, Andei, naveguei, mergulhei, Mais tarde aqui despertei, Não sei, não lembro aonde cheguei… Só sei que caminhei à procura De alguém, um lugar seguro, Um coração valente, maduro… (Caminhante da Vida, p.31).
Admiro, sinceramente, a autora quando ela escreve prosa ou poesia, assim como textos acadêmicos, pois sou um apreciador contumaz da sua prosa nos Jornais.  Já cheguei a declarar que a admiro literariamente, até a inveja, pelo realismo que empresta aos seus textos de criação original e pela competência de sua expressão linguística. Os mais achegados à Professora sabem da destreza com que desenvolve seus temas, sempre voltados ao ideal de fazer chegar a Justiça até aos mais humildes.
Ademais, Luísa Galvão Lessa Karlberg é uma boa amiga, boa filha e cidadã simples. Somos confrades e compartilhamos diversos sonhos. Deve ser por isso que me elegeu, imerecidamente, para degustar o primeiro cálix do vinho poético do sucesso do seu livro de poesias. Poesia/Pedra capaz de nos humanizar por fricção para nos tornar melhores a cada dia, além de produzir um efeito analgésico sobre a rebocadura das circunstâncias alucinantes da vida moderna: na pressa do trânsito que atrasa à chegada ao trabalho - porque a poesia serve de impenetrável escudo psicológico ao autor, seus leitores e demais sofredores inveterados... conforme registrou Graciliano Ramos em “comentários” a respeito de Memórias do Cárcere: “Se não fosse minha relação com os livros, na prisão, a exemplo de muitos companheiros meus, teria enlouquecido”.
E, esta particular insanidade é reforçada pelo dito popular, por nossas palavras: “poeta e louco são nomes sinônimos”. O motivo, quem se atreveria a revelar sem vestir o uniforme de iconoclasta? Parece óbvio. Todo poeta experimentado que ainda escreve, nesta “Pátria das Chuteiras”, só pode haver enlouquecido, para produzir um produto que ninguém quer comprar, aqui, como alhures - o Brasil provinciano não sabe ler!  Esta pertinente queixa poética é antiga. Foi estampada por Mário de Andrade no desvairismo provinciano de Paulicéia Desvairada (primeiro livro modernista publicado no Brasil): cujas entrelinhas afirmam que são Paulo era (continuará sendo?) entorpecente...
Espera-se que o leitor reconheça e encontre neste livro as mensagens que ele transporta. E que estas lhe provoque uma insuportável vontade de voar. Espera-se, também, que este ‘Tecido do Coração’ tenha a mesma sorte da Paulicéia, por prestar-se ao mesmo propósito instigador, à reflexão, resistência e mudança, neste caso, no nosso ambiente amazônico, padrasto dos poetas que testemunham impotentes os trabalhadores locais serem ameaçados nas suas conquistas históricas de luta. Um palco de conflito travado no calor de quarenta graus, “fritando” o povo.
Que mais dizer senão advertir que este tomo vai escrito no idioma do amor - única força construtora. Que Ele, por seu mérito, renove nossa admiração pela autora, acadêmica que merece o cúmulo dos nossos encômios. E que a capacidade nobiliárquica da poesia sustente nossa esperança no porvir. Isso porque ao  escrever o ser humano se inscreve na matéria, imortalizando o seu pensar e o seu sentir. Escrever é, nesse sentido, um ato de imortalidade ao que a pessoa foi ontem,  será amanhã e é hoje. Ao escrever o seu hoje, que amanhã será passado, o poeta continuará presente. Por esse motivo, o domínio da escrita torna-se importante não somente quanto ao aspecto social ou profissional, mas principalmente quanto ao aspecto existencial.
Fait un bon voyage, ‘Tecido do Coração’!
Renã Leite Pontes
* Professor, escritor, poeta e Presidente da Academia dos Poetas do Acre.

terça-feira, 24 de julho de 2018

ATLAS ETNOLINGUÍSTICO DO ACRE - ALAC



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O ATLAS ETNOLINGUÍSTICO DO ACRE - ALAC

IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DE NATUREZA LEXICAL

O nível lexical de uma língua é olhado como o retrato da cultura de um povo. Nele estão refletidos aspectos vinculados às experiências sociais e culturais de uma comunidade, pois, ao escolher formas linguísticas para nomear os referentes do mundo físico e do universo simbólico, o indivíduo revela não somente a sua percepção da realidade, mas compartilha valores, práticas culturais e crenças do grupo social em que se enquadra.
Em estudo de natureza lexical, como este que aqui se empreende, objetiva apresentar, por meio da análise linguística ou análise das Cartas Léxicas,  a presença de fronteiras léxicas[1] ou mesmo de isoglossas no Atlas Etnolinguístico do Acre – ALAC. E, à luz dos teóricos da Geolinguística, uma isoglossa[2] pode ser delineada com base em elementos léxicas, ou seja, na variação presente no uso das palavras para designar um mesmo objeto, ou idéia, ou ação. Nesse caso, chama-se isoléxica e demarca as regiões em que determinada palavra é preferida em detrimento de outra para denominar o mesmo objeto.
Sendo assim, o léxico é o nível da língua mais influenciado por fatores socioculturais. Segundo Biderman (2001, p.12):
[...] o léxico de uma língua natural pode ser identificado como o patrimônio vocabular de uma dada comunidade linguística ao longo de sua história. Assim, para as línguas de civilização, esse patrimônio constitui um tesouro cultural abstrato, ou seja, uma herança de signos léxicas herdados e de uma série de modelos e categorias para gerar novas palavras.
Considera-se a herança linguística o maior patrimônio que um povo possui, muito embora devido às mudanças, fatos, acontecimentos e diversidades culturais, as linguagens estão mudando, outras estão ganhando novos sentidos. Assim, não se deve  continuar a ensinar a língua portuguesa como era no passado, isso porque não é mais possível ignorar as modificações multiculturais, as quais influenciam no valor lexical. Para ensinar línguas é necessário contextualizar as expressões, respeitar os aspectos geográficos, culturais, históricos e linguísticos de cada povo.
O léxico é entendido como “conjunto das unidades que formam a língua de uma comunidade, de uma atividade humana, de um locutor, etc.”(DUBOIS et al., 2006, p. 364). Ainda, segundo Biderman (2001, p. 179),
O Léxico de qualquer língua constitui um vasto universo de limites imprecisos e indefinidos. Abrange todo o universo conceptual dessa língua. Qualquer sistema léxico é a somatória de toda a experiência acumulada de uma sociedade e do acervo da sua cultura através das idades. Os membros dessa sociedade funcionam como sujeitos agentes, no processo de perpetuação e reelaboração contínua do Léxico da sua língua.
Desde há bastante tempo o léxico das línguas vêm sendo estudados sob variadas perspectivas. Há, de um lado, pesquisas que se voltam para o estudo histórico desse léxico, descrevendo-o e analisando-o com base numa abordagem diacrônica. De outra parte, existem aqueles estudos que, por meio de pesquisa de campo, registram o falar de determinadas comunidades linguísticas, num plano sincrônico, ou que fazem, também, um estudo léxico-comparativo entre o estado atual da fala e os documentos escritos em épocas anteriores, com base, por exemplo, nas correspondências trocadas entre familiares, amigos etc.
Em verdade, o ato de nomear constitui, em si só, uma apropriação da cultura. Muitos são os exemplos que se poderia arrolar sobre a nomeação como ato de apropriação pela linguagem, mas dois são evidentes. Em Gênesis, a criação do mundo faz-se pela palavra, pela nomeação de cada uma das partes criadas para a constituição desse mundo. Outro exemplo revelador é o da aquisição da linguagem pelas crianças. A necessidade da comunicação, associada à limitada dominação da língua, determina escolhas, relegando a um segundo momento a aquisição e o domínio de estruturas complexas e centrando o esforço de comunicação na nomeação do mundo que as cerca. Posteriormente, as escolhas léxicas serão reveladoras dos valores que cultuam, das influências sofridas, da história pessoal e coletiva.
Considera-se relevante que um estudo da dimensão lexical tem, ainda, por objetivo a elaboração de dicionários de língua geral, estudo que contribuiu para a instituição de disciplinas como a Lexicologia e a Lexicografia, que são responsáveis por estudos de dimensão lexical, tais como à elaboração de glossários, dicionários técnico-científicos e bancos de dados terminológicos que proporcionaram o desenvolvimento de disciplinas como a Terminologia e a Socioterminologia.
Depreende-se, então, que dessa evolução teórico-metodológica dos estudos sobre o léxico, a Dialetologia e a Geografia Linguística estiveram sempre interessadas em registrar o patrimônio lexical de um passado recente e as mudanças léxicas ocorridas graças às transformações sociopolíticas e geopolíticas ocorridas numa dada língua, em qualquer parte do planeta. Por isso, certamente, essas duas disciplinas se mantiveram vivas do final do século XVIII até os dias atuais.
Interessante observar que no Brasil o estudo das palavras já despertava interesse desde aquele trabalho de Visconde de Pedra Branca. Todavia, a partir de 1996, a Dialetologia e Geografia Linguística tiveram um considerável avanço, que pode ser verificado pelo número de publicações científicas de grande porte representadas pelos atlas linguísticos regionais e pelo projeto Atlas Linguístico do Brasil – ALiB – cujos frutos já se verificam em teses de doutorado, dissertações de mestrado e artigos científicos publicados em revistas nacionais e internacionais, bem como em encontros dedicados à Geografia Linguística. Muito tem sido feito nesse campo do conhecimento.
Ademais, sendo as palavras os elementos mais importantes de uma língua, o estudo do léxico tem caracterizado os estudos em Dialetologia que sempre demonstraram a urgência que há no registro da diversidade lexical do português, como afirma Couto (2009, p. 146):
Ao lamentar o desaparecimento dos dialetos rurais, não estou propugnando por um iletramento, um não-acesso ao DE [dialeto estatal]. Pelo contrário, estou lamentando a perda de todo um conhecimento que se vai com o desaparecimento de uma variante do português. Isso porque, quando uma palavra desaparece, o fato se dá porque a coisa designada por esta também desapareceu ou, pelo menos, o conhecimento que a comunidade tinha da coisa, como sabiam os membros da escola dialetológica Wörter und Sachen (palavras e coisas). O que estou defendendo é a variedade, a diversidade de dialetos, inclusive o dialeto estatal. Como nos ensina a natureza, diversidade representa riqueza, no caso riqueza de meios expressivos, o que não é algo ruim que deve ser extirpado, como querem os normativistas para as variedades não padrão, não estatais.

O projeto ALiB corrobora toda uma história de estudos dialetológicos voltados para o registro, entre outros, da variação lexical. Trata-se de um marco divisório entre estudos dialetológicos voltados para metodologias que focalizavam o espaço rural e estudos voltados para o contínuo rural-urbano em razão das mudanças sociopolíticas e econômicas. Os estudos do léxico têm se beneficiado desse passo importante na história da dialetologia brasileira.
No Brasil, os estudos de cunho dialetológico tiveram início, segundo Cardoso (1997), no final do século XIX e início do século XX. Com publicações como o  Dicionário da Língua Brasileira (PINTO, 1832), o Vocabulário brasileiro para servir de complemento aos dicionários da Língua Portuguesa (RUBIM,1853), o Popularium sulriograndense e o dialeto nacional (ALEGRE, 1872), A linguagem popular amazônica (VERÍSSIMO, 1884), O dialeto caipira (AMARAL,1920) e A língua do Nordeste (MARROQUIM, 1934), O linguajar carioca (NASCENTES, 1953), desenvolveram-se estudos que, ao lado dos glossários regionais, caracterizaram os rumos dos estudos dialetais no Brasil.
Para resumir as tarefas dos estudos dialetais, vale citar Cardoso (2010), que destaca o ponto de vista incontornável de Nelson Rossi (1967, p. 104, apud CARDOSO, 2010, p. 141):
Convirá, porém, nunca esquecer que a dialetologia é essencialmente contextual: o fato apurado num ponto geográfico ou numa área geográfica só ganha luz, força e sentido documentais na medida em que se preste ao confronto com o fato correspondente – ainda que por ausência – em outro ponto ou outra área.


[1] Entende-se por fronteira léxica o espaço geográfico que abriga formas linguíticas que não apresentam unidade nos espaços em que  determinadas palavras foram pesquisadas.
[2] Uma isoglossa é a fronteira geográfica de certa característica lingüística, por exemplo, a pronúncia de uma vogal, o significado de uma palavra ou o uso de uma característica sintática. Consideram-se, na presente pesquisa, isoglossas nitidamente demarcadas por lavras diferentes para designar o mesmo objeto, porquanto o estudo prende-se às Cartas Lexicais em três grandes regiões do Estado do ACRE (VA, VP, VJ) e nove Zona de Pesquisa: Rio Branco, Plácido de Castro, Xapuri (VA); Sena Madureira, Manoel Urbano, Assis Brasil (VP); Cruzeiro do Sul, Tarauacá, Feijó (VJ).



domingo, 1 de julho de 2018

RELAÇÕES HUMANAS NO MUNDO DO TRABALHO






            Relações Humanas é tema atual e de objetiva importância no mundo do trabalho. Em todos os lugares, onde existe um agrupamento de pessoas, o assunto é falado, quer seja nas empresas, clubes, escolas, instituições de ensino superior, igrejas e na sociedade em geral. É temática sempre  recorrente ao sucesso no mundo do trabalho. Ao se pensar em valores humanos, abre-se um leque sobre o assunto, pois várias são as interpretações e concepções para tal, bem como sua aplicação na sociedade e em especial na sua “degradação” que é visível. Mas quais seriam estes valores humanos? Pode-se descrever como valores tudo o que é importante para a vida do ser humano, seja no campo material ou espiritual, sendo destacados alguns em especial como ética, verdade, integridade, justiça, paz e amor.
            Assim, onde há duas pessoas existe um relacionamento. Onde há mais pessoas a necessidade harmoniosa entre elas se faz mais necessária. Isso porque é visível, em grandes grupos, a rivalidade, a hostilidade, a disputa desigual, a ausência de compreensão e tolerância. Tanta gente carrega extremada vaidade, egoísmo, arrogância. E ao julgar-se um deus na terra, pode, logicamente, menosprezar pessoas. Ainda há os que levam a vida a culpar os outros de seus insucessos. Há aqueles sem tempo para o tempo e sem alegria para olhar no rosto do outro. Esses são alguns pontos a serem minimizados nas relações de trabalho.
            Em tal cenário, não vale ter a melhor tecnologia, a melhor localização, recursos financeiros abundantes, massa trabalhadora bem titulada se não há pessoas motivadas. Os recursos financeiros e tecnológicos serão inoperantes se os HUMANOS que trabalham e forem considerados simples “recursos humanos” e não pessoas. Esses recursos humanos necessitam tratados como GENTE, como pessoas inteligentes, que têm muito a contribuir.
            Dessa forma, os HUMANOS, em qualquer local de trabalho, devem ser tratados como ativos intangíveis, como valores infinitos e inesgotáveis, e não como ativos tangíveis, com valor absoluto e finito. Pois não se pode perder de vista que as relações humanas, em todos os níveis, são complexas e difíceis. Todavia, se bem trabalhadas e motivadas, os resultados logo se farão sentir. Quem trabalha com prazer, confiança, motivação, elogio, o resultado  irá impactar, positivamente, na vida da instituição/empresa e, consequentemente, na vida de cada membro daquele grupo social.
            Assim, aquele que trabalha com satisfação, competência, deve ser valorizado, elogiado, sob pena daquele que não faz nada ficar no nível de quem faz muito. É preciso estabelecer diferenças entre aquele que trabalha e o que nada faz, evitando-se que todos caiam no mesmo saco. Pois um funcionário, um servidor insatisfeito é um inimigo em potencial. Então é melhor fazer amigos, não ‘passando a mão na cabeça’, mas valorizando o potencial de cada pessoa, estimulando-a a ser cada dia melhor.
            Por isso tudo é melhor fazer do servidor um amigo  e não um inimigo. Fazer do colega um amigo. Logicamente que essa amizade deve ser desinteressada, mas quando se é amigo de verdade o benefício da amizade é a consequência dela. Nesse sentido, um  administrador, um chefe, um patrão, um funcionário deve observar algumas regras básicas para obter sucesso no mundo do trabalho.
            PRIMEIRA REGRA - Colegas passam, mas inimigos são para sempre. A chance de uma pessoa se lembrar de um favor que você fez a ela vai diminuindo à taxa de 20% ao ano. Cinco anos depois, o favor será esquecido. Mas a chance de alguém se lembrar de uma desfeita se mantém estável, não importa quanto tempo passe.
            SEGUNDA REGRA: A importância de um favor diminui com o tempo, enquanto a importância de uma desfeita aumenta. Favor é como um investimento de curto prazo. Desfeita é como um empréstimo de longo prazo. Assim, todo o cuidado é pouco. Importante fazer amigos no trabalho, respeitar e valorizar o bom trabalhador.
            TERCEIRA REGRA: Um colega não é um amigo. Colega é aquela pessoa que, durante algum tempo, parece um amigo. Amigo é aquela pessoa que liga para perguntar se a pessoa está precisando de alguma coisa, se está bem, como vai no trabalho, etc.
            Portanto, profissionalmente falando,  o sucesso no trabalho consiste, essencialmente, em não fazer inimizades. Porque, por uma infeliz coincidência biológica, os poucos inimigos são exatamente aqueles que têm boa memória. Então, é melhor não fazê-los, trabalhar em prol da grandeza de todos, elogiando os grandes e oportunizando o crescimento dos ‘pequenos’. Dizer: “bom dia”, ‘obrigada”, ‘com licença”,”como vai”, “tudo bem”, “isso é ótimo”, demonstra EDUCAÇÃO e SABEDORIA.
            Jürgen Habermas (1997) aponta a linguagem, e não o trabalho, como o ponto central nas relações humanas. A fala é processo primordial que permite aos seres humanos se relacionarem dando sentido a própria vida. As pessoas, através do trabalho, constroem laços que estão presentes na reprodução da sua própria existência, no ato laborativo de suas vidas. O trabalho é uma forma de existência exclusivamente humana.
Mas a realidade é que muito se fala e pouco se pratica quanto a valores, pois teorias são inúmeras, mas as práticas são possíveis de serem contadas. A própria mídia se preocupa mais em mostrar a degradação ao invés de mostrar a construção dos valores humanos. Só teremos uma sociedade justa e fraterna quando unirmos forças para formar e também resgatar cada valor do ser humano, através do conhecimento e aprimoramento deste conceito dentro das ciências, das artes, da religião e da gestão como um diferencial de qualidade para a produtividade e para a vida dentro de cada organização.

DICAS DE GRAMÁTICA
QUANDO ALGUM É NENHUM?
- A posição de uma palavra na frase pode mudar totalmente seu sentido. Vejamos:
a) Quando algum vem antes do substantivo — eu tenho algum dinheiro — é porque eu tenho um pouco de dinheiro.
b) Quando algum vem depois do substantivo -  não tenho dinheiro algum  -- significa o contrário, que  estou sem nenhum dinheiro.

A vida da gente é feita assim: um dia o elogio, no outro a crítica. A arte de analisar o trabalho de alguém é uma tarefa um pouco árdua porque mexe diretamente com o ego do receptor, seja ele leitor crítico ou não crítico. Por isso, espero que os visitantes deste blog LINGUAGEM E CULTURA tenham coerência para discordar ou não das observações que aqui sejam feitas, mas que não deixem de expressar, em hipótese alguma, seus pontos de vista, para que aproveitemos esse espaço, não como um ambiente de “alfinetadas” e “assopradas”, mas de simultâneas, inéditas e inesquecíveis trocas de experiências.